domingo, 16 de julho de 2017

Aplicativos


APLICATIVO

Dê-me um aplicativo
Que me faça bendito,
Ainda que eu tenha dito mal
De qualquer um que, em especial,
Prenda em meu coração ferido!

Dê-me um aplicativo
Que me torne bem quisto,
Ainda que a indiferença
Eu tenha plantado na essência
De meu olhar altivo!

Dê-me um aplicativo
Que me devolva o riso,
Ainda que a futilidade
De uma vida sem verdade
Seja meu "ser" preferido!

Dê-me um aplicativo
Que me torne o mais bonito,
Ainda uma alma pútrida
Seja minha vera face rústica,
Meu segredo guarnecido!

Dê-me um aplicativo
Que me apresente convicto,
Ainda que ideias turvas
Sejam as reais molduras
De tudo que eu acredito!

Dê-me um aplicativo
Que me encha de algum sentido,
Ainda que a torpe apatia,
De minhas veredas a guia,
Delate-me adormecido!

Dê-me um aplicativo
Que me faça bem visto,
Ainda que toda a maldade,
Sócia de minha vaidade,
Seja tudo que eu tenha nutrido!

Dê-me um aplicativo
Que me mantenha iludido,
Ainda que de fato eu perceba
Na vida, lida e até na natureza,
Tudo o que é, será, ou tenha sido!

Dê-me um aplicativo
Que me mostre destemido,
Ainda que a covardia
Seja a fiel companhia
De meu ser omisso!

Dê-me um aplicativo
Que me afaste o gemido,
Ainda que meu caminho
Esteja coberto de espinhos,
Que eu mesmo tenha produzido!

Dê-me um aplicativo
Que me faça atrativo,
Ainda que a essência
De minha amarga existência
Guarde um ser repulsivo!

Dê-me um aplicativo
Que me encha de amigos,
Ainda que minha real intenção
Seja somente a bajulação,
De qualquer um que tenha conhecido!

Não mais se estenda,
E tão logo me atenda:
Dê-me o Aplicativo dos aplicativos,
Conforme todos os meus caprichos,
E assim sacie a sede e a fome
De meu ser vil, e infame,
E preencha meu Vazio,
Que não se encontrou no Infinito!

Gama - DF, 16 de julho de 2017.