sábado, 1 de abril de 2017

A Graça nas Bolotas

 
A GRAÇA NAS BOLOTAS

Inúmeras vezes são nas "bolotas dos porcos" que a Graça termina por se evidenciar em nós, visto que ali a nossa consciência é brindada com o arrependimento e o desejo de retornar ao seio do Pai. 

Essa Graça, que habita na consciência, é tão misteriosa e extraordinariamente sublime, que chega a desnudar a hipocrisia do "irmão mais velho", o qual, julgando ter vivido sempre junto ao Pai, nunca regozijou-se nisso, posto que sua consciência se fez reduzida à obrigação de tornar-se aquele que é digno. Agora, imaginando-se o mais digno, este imão mais velho tenta justificar sua inveja mediante um vitimismo vil, ingrato.

Já a Graça que frutifica no entendimento do pecador se manifesta sempre como consciência de indignidade e posterior súplica por misericórdia. A consequência inevitável disso é o retorno quebrantado, seguido da recepção calorosa de um Pai amoroso, coroada por vestes novas, comunicada num banquete especial, e selada com um anel posto no dedo!

quinta-feira, 30 de março de 2017

O que sou...

 

Dizia o poeta:
Então, meu complexo de inferioridade, que nascia de uma sensação fundada na minha insegurança, foi substituído por uma forte e segura convicção de minha pequenez... Não me acho mais inferior: tenho certeza de que sou muito - muito mesmo! - pequeno!

Assim, vou me convertendo ao que desde o início eu deveria ser, no caminho do abandono de quem, querendo ser, de fato nunca fui. E na brisa da simplicidade de me achar no propósito sob o qual sou, revisto-me da leveza de não desejar mais ser outrem! 

Enfim, o fardo da necessidade de grandeza, deixei para trás. E hoje, apenas caminho conforme a vida, em verdade, se revela a mim! Fora disso, fora dessa consciência - entendi - não há viver, mas somente existir!

quarta-feira, 29 de março de 2017

Abandono

 

ABANDONO

A vida é, em si mesma, a contínua lição do abandono. É o esvaziar-se sempre de razões, motivações, e até de respostas prontas, para que a Verdade seja impressa, firmada no ser. É, portanto, abrir mão de "ter"! Mas não somente o "ter" material, mas também do "ter" imaterial.

Contudo, quanto menos parecemos ter, quanto mais deixamos para trás, mais passamos a possuir, porquanto, efetivamente, mais passamos a ser. 

Sobretudo, que Ele Seja, o que de fato extraordinariamente É, em nós, para que, tendo-O, sejamos nEle!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Gostando e Desgostando

 

GOSTANDO E DESGOSTANDO

A vida vai se desenvolvendo na experiência do gostar. Desde cedo as nossas predileções vão sendo aguçadas e, com o tempo, afuniladas. Entretanto, no caminhar do tempo, parece que as nossas tendências e gostos vão se acrescentando, subtraindo, multiplicando, dividindo. 

Em muitos casos a gente, sob a égide de Cronos, de tanto provar mais e mais o que se gosta, parece que acaba por desgostar. A experiência do desgosto tem que caminhar junto com a do gosto, daí decorrendo em alguns casos. Isso nos amadurece; isso nos torna mais graves; isso nos desenvolve como seres humanos. 

Você conhece facilmente o grau de imaturidade de alguém de acordo com o quanto esse alguém se propõe a saciar ao máximo os seus gostos. Ou seja: quanto mais indeciso acerca do que realmente se gosta, e ávido em atender o que já supõe gostar, mais imatura uma pessoa normalmente é. E quanto mais decidida a, inclusive, abrir mão de vários de seus gostos, mais amadurecida e humana uma pessoa se apresentará. 

Alguns nesse caminho, após experimentarem tantos gostos e desgostos, se veem cansados, fatigados, entristecidos, sem mais desejo algum de se saciar, ou enveredando-se no saciar-se em qualquer novidade que lhes seja apresentada. Então se perdem no despropósito de ser, caindo num vazio de angústia; num turbilhão de ansiedade inexplicável; num sentimento nostálgico inquietantemente depressivo. Tudo isso porque se perdeu no propósito de ser, enquanto buscava ardentemente atender seus gostos, ou enquanto se fez moralmente motivador de seus desgostos.

É também verdade que tanto a avidez pelos próprios gostos, quanto o repúdio fanático a estes mesmos gostos, objetificando-os como o núcleo de seus pecados, apontam para a consciência imatura do ser. Gostos e desgostos são para o homem, mas o homem não deveria ser para os gostos e desgostos. Assim como o comer e as vestimentas são para o homem, mas o homem não é para a comida e nem para as vestimentas.

Quando se entende isso, entende-se também que o núcleo de tudo não é a coisa que se gosta ou se desgosta, mas a motivação que me faz deixar o que eu gosto, ou até experimentar o desgosto. Nesse ponto, chego no amor! O amor transcende nossos desejos, ou mesmo nossas predileções. O amor também nos faz provar até mesmo o que não gostamos. Enfim, no amor, gostos e desgostos se tornam apenas instrumentos de quem ama, em favor desinteressado a quem é amado. 

Fazemos, por amor, o que não gostamos, e deixamos de lado o que gostamos. E enquanto fazemos tudo isso, o amor, em si mesmo, nos supre em alegria, gratidão e paz. Em tudo isso, há inefável e completo prazer!

Transcenda, pois, o gostar e o desgostar e apenas AME!