sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Adoecidos e Adormecidos - Parte 3




Capítulo 2 – Andando; detido; assentado.

            Quando estava em Éfeso, por três meses Paulo pregou na sinagoga. Contudo, o apóstolo encontrou uma dificuldade no discipulado, dado ao fato de que alguns desobedientes, endurecidos e detratores do Caminho, estavam próximos dos novos crentes. O que o apóstolo fez? Retirou-se do meio deles e separou os discípulos para doutriná-los (At 19.9). Paulo não se preocupou com o número reduzido de discípulos, que era de aproximadamente doze. Ao contrário, foi perseverante em exortá-los pelo prazo de dois anos (v. 10). Essa atitude fez com que a palavra alcançasse o ouvido de todos os que habitavam na Ásia, tanto judeus como gregos (v. 10). Entretanto, quais os princípios observados pelo apóstolo nessa decisão de separar os discípulos? Para entendermos, precisamos ler e refletir o texto abaixo:

BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. (Sl 1.1-5) [Ênfases adicionadas]

            Lendo este texto, percebemos que a grande verdade, é que Paulo sabia que aquela influência maligna, daqueles ímpios, pecadores e escarnecedores que frequentavam a sinagoga, certamente deterioraria tudo o que ele ainda pretendia construir, pelo Espírito, por meio do discipulado. Hoje não é diferente. Grande parte das pessoas que nós vemos segregadas – por vontade pessoal e não porque alguém os segregou – e desanimadas com a obra de Deus, vivem em constante contato e relacionamento irrefletido com ímpios. O salmista, no trecho citado acima, apontou três atitudes desastrosas que normalmente os cristãos têm exercido. Apontaremos cada uma das três.

Andam no conselho dos ímpios.

            Há uma grande dificuldade de o cristão entender quem vem a ser o ímpio. Essa compreensão, entretanto, é crucial. Sem ela, não há como respeitar a instrução do salmista. Pois bem, ímpio não é aquele ser malvado, um quase serial killer espiritual; um psicopata da fé. Não! O ímpio é o indivíduo que não guarda o temor a Deus, vivendo irreligiosamente. O termo “ímpio” é constituído do prefixo “im”, que denota negação, ou ausência de algo/qualidade; e do sufixo “pio”, que aponta para a característica de alguém devoto, religioso. Logo, ímpio é o oposto de piedoso. Qualquer ser humano que vive distante da devoção a Deus, com todas as implicações da verdadeira religião que dali decorre, é considerado ímpio.

            Entenda algo: quando afirmo que todo homem ou mulher que vive essa condição enquadra-se nas características de um “ímpio”, aponto, inclusive, para aqueles que se dizem crentes no Senhor Jesus. Aponto também para mim, e para você, pois se andarmos distantes da devoção a Deus, somos ímpios e, estar debaixo de nosso próprio conselho é uma atitude nociva! Qualquer um que se diz servo de Deus tem que manifestar, inequivocamente, as características presentes no Mestre Jesus. Ou seja, deve buscar aprender do [e no] Senhor a mansidão e a humildade (Mt 11.29); deve manifestar a fragrância do perfume de Cristo (2Co 2.14-17); deve frutificar no Senhor Jesus (Jo 15.1-6, 16); deve ser um esboço das características do fruto do Espírito (Gl 5.22); deve caminhar na prática das boas obras (Ef 2.10; Tg 2.16), apontando e refletindo assim a verdadeira religião (Tg 1.26,27) etc. É evidente que, dificilmente, se encontrará um cristão perfeito em tudo isso. Mas, os verdadeiros discípulos de Jesus, caminham nesse sentido:

Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Fp 3.11-14)

            Entende-se, pois, claramente, que qualquer homem ou mulher que não manifesta aquelas características, se encaixa no texto bíblico como ímpio. E é do conselho desse indivíduo que devemos fugir. Assim Salomão nos exortou:

Deixai os insensatos e vivei; e andai pelo caminho do entendimento. (Pv 9.6)
           
            A vida exige de nós inteligência nas tomadas de decisões. E o servo de Deus não deve permitir-se ser enganado pelo conselho daqueles que não guardam o temor do Senhor, ou mesmo que se afastaram de Sua presença por causa de seu orgulho. Ao discípulo prudente, portanto, não cabe seduzir-se pelo conselho dos ímpios. Lemos ainda, na Palavra, o seguinte:

Os pensamentos dos justos são retos, mas os conselhos dos ímpios, engano. (Pv 12.5) [Ênfase adicionada]

            Permita-se ser aconselhado, por exemplo, acerca de problemas de relacionamento com um lascivo, que está entregue aos seus desejos carnais; em breve você estará atolado em pensamentos pecaminosos e, quando menos esperar, já estará afundado em sua própria concupiscência! Deixe que um orgulhoso e arrogante te aconselhe acerca de como você deve lidar com sua esposa ou marido, ou mesmo com seu patrão, em seu lugar de emprego; em pouco tempo você estará divorciado e desempregado. Permita que um rebelde lhe ajude com um problema de comunicação que você tem com os seus pais; em pouco tempo no seu lar não haverá paz, mas será contemplado por tempestades, tornados e turbilhões de conflitos! Permita-se aconselhar-se com uma pessoa afastada da igreja por arrogância e orgulho acerca de alguma atitude em relação a sua liderança espiritual; em breve você experimentará uma frieza espiritual e um desânimo profundo em relação à fé, e ainda será capaz de culpar seus líderes por isso!
           
            Os conselhos dos ímpios são fundamentados no orgulho, na prepotência, na arrogância, na raiz de amargura. Por isso são enganosos! Encontram inspiração no próprio pai da mentira (Jo 8.44). Viva debaixo do conselho dessas pessoas que o desastre será cataclísmico em sua vida. O problema é que há muitos que se dizem cristãos, mas vivem uma realidade completamente dispersa do significado de ser cristão. São essencialmente carnais e de aparência de piedade, conforme o próprio apóstolo Paulo os denuncia:

Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? (1Co 3.3) [Ênfase adicionada]

            E novamente:

Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. (2Tm 3.2-5) [Ênfase adicionada]

            O que se vê regularmente em nossos templos é um grande grupo de irmãos e irmãs que tem sido levado pelos conselhos de pessoas impiedosas que se passam por piedosas. A Palavra nos exorta a nos AFASTARMOS dessas pessoas (2Tm 3.5). Estas vivem segundo a sua própria hipocrisia, enganando e sendo enganadas (2Tm 3.13). Fuja, igreja, de perto dessas delas. Elas se achegam cheias de mágoas; não conseguem, sequer, enxergar seus próprios erros. Lançam a culpa de seu esfriamento em tudo e todos, mas não caminham para o arrependimento. Estão arraigadas próximo aos lagares amargos do ressentimento! Afastar-se é um imperativo, uma ordem; não uma opção!

Detido no caminho dos pecadores.

            O verbo “detido”, aqui, tem uma profunda inferência; isso porque, como igreja do Senhor e arautos do Rei Jesus, nós temos o dever de nos achegar aos pecadores com a mensagem de arrependimento anunciada pelo evangelho (Mc 16.15,16; Mt 28.19, 20; Rm 10.15). Jesus foi o nosso grande exemplo! Ele não perdia uma oportunidade de cruzar o caminho dos pecadores. Para se ter uma ideia, Cristo firmou seu domicílio justamente em Cafarnaum (Mt 4.13). Porém, por que o Mestre quis habitar nessa cidade? O fato é simples: aquela região é apontada pelo profeta Isaías como “a região da sombra da morte” (Is 9.2; Mt 4.16). Era ali que a Luz deveria brilhar.

            Logo, não devemos fugir dos pecadores, tampouco dos ímpios. Afastar-se não é fugir! Pelo contrário, estes devem ser alertados e convidados ao arrependimento. Mas há uma grande diferença entre CRUZAR o caminho dos pecadores, a fim de ensiná-los, e DETER-SE em seus caminhos. O que temos visto atualmente, e por isso a igreja está doente e dormita, é que grande parte dos crentes não somente cruza o caminho dos pecadores, mas ali si detém. Por que, porém, os crentes têm se detido neste caminho? A grande resposta já foi dada anteriormente: Porque andam segundo o conselho dos ímpios! Uma coisa leva, inevitavelmente, à outra. Você começa se aproximando de alguém para ajudá-lo, quem sabe; em pouco tempo de conversa você já se silencia e começa a ouvir suas reclamações e seus conselhos; logo mais, as suas práticas pecaminosas já se revelam atraentes e o pecado vem jazendo à porta (Gn 4.7) do coração; alguns instantes mais, e você estará com a mente e o coração infestado de toda podridão. É fato: você estará, efetivamente, no caminho dos pecadores! Seu coração estará repleto de orgulho; de amargura; de razão humana; de desejos pecaminosos.

            O problema é que o caminho dos pecadores é atraente à carne. Não exige sacrifícios, nem negação (Rm 12.1; Lc 9.23, 24). Por isso é chamado de “caminho espaçoso” (Mt 7.13). Por que este caminho é espaçoso? Porque é feito para transitar por este todos aqueles que têm o ego inchado; aqueles que não são capazes de se esvaziar; são os “gorduchinhos” espirituais; está repleto de seres humanos ensimesmados. A porta, ao final deste caminho, é larga, pois deve ter espaço para que passem por ela homens e mulheres cheios de si. Mas, quão triste é esse caminho e quão belo é o Bom Caminho (Jo 14.6)! Deixe-se conquistar por Ele! Ele se deu por você e é a porta para a sua salvação (Jo 10.7)!

Assentado à roda dos escarnecedores.

            Assentar-se à roda dos escarnecedores é talvez o ponto mais baixo que alguém pode chegar concernente à degradação espiritual. O escárnio, a zombaria é o clímax da insensibilidade e, por incrível que possa parecer, é mais comum do que se imagina. Quando o Senhor Jesus foi conduzido para ser açoitado e, logo mais, crucificado, mesmos cientes de que não havia culpa nEle (Lc 23.4,22), aqueles soldados se insensibilizaram e o escarneceram (Mt 27.29). A dor que o escárnio gera transpassa a carne; açoita e mutila a alma.

            Quanto a esse terrível pecado, Paulo nos adverte:

Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. (Gl 6.7) [Ênfase adicionada]

            O verso citado acima é parte da revelação de um princípio: a lei da semeadura. A partir desta, tudo que o homem planta, inevitavelmente, ele colhe. De mesmo modo, o texto nos informa que a semente de maldade, do erro, do pecado é indubitavelmente escárnio perante Deus. Assim, todas as vezes que semeamos o mal, estamos zombando de Deus, como se Ele não tivesse poder para nos impedir; ou mesmo, como se não houvesse risco algum nesse ato. Assisti, certa vez, a um episódio do famoso desenho animado Tom & Jerry. Ali, o gato colocava um monte de ratoeiras com pedacinhos de queijo para conseguir pegar o rato. O ratinho, por sua vez, passava coletando os queijos das ratoeiras, dançando e rodopiando, como se tudo aquilo não oferecesse risco algum. Era engraçadinho, vê-lo zombando da cara do gato que não o conseguia, de forma alguma, surpreender com aquela armadilha. Isso acontece conosco da mesma maneira, porém, em relação a Deus. Brincamos e zombamos dEle enquanto nos atolamos em pecado. Rodopiamos diante do erro com uma dancinha escarnecedora e irritante; com um comportamento sarcástico e pensamos que nada nos poderá acontecer. Mas a ratoeira [o salário do pecado] está posta; e Deus não se deixa escarnecer (Rm 6.23).

            Mas, como se conceber, convictamente, que o escárnio é o mais baixo nível de degradação espiritual? No texto bíblico citado no preâmbulo desse capítulo (Sl 1.1-5), o salmista, inspirado pelo Espírito Santo, apontou para uma sequência de atos de modo que o primeiro vai conduzindo ao segundo, e o segundo, inevitavelmente, ao terceiro. Já entendemos que há uma correlação lógica entre andar segundo o conselho dos ímpios e se deter no caminho dos pecadores. Ocorre, porém, que aquele que se detém no caminho dos pecadores, com o tempo, acostuma-se a essa realidade. É o que Paulo chama de “consciência cauterizada”:

MAS o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência (1Tm 4.1,2) [Ênfase adicionada]

            Aí reside o grande problema! Uma vez que a consciência está cauterizada no pecado, virtudes como a fé e o temor do Senhor dão lugar a um comportamento de zombaria e escárnio. Lembrando que escarnecer não significa zombar expressamente de Deus; mas sim, zombar dEle por meio de atitudes comportamentais coniventes a um viver pecaminoso. É a tradição do erro e da vã maneira de viver:

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado (1Pd 1.18,19)

            Assim, o costume no pecado, é escárnio diante de Deus e contra Ele.

Destes afasta-te!

            Certa vez constituí um novo amigo. No início de nossa amizade, tudo estava bem. A sua companhia aparentemente me fazia bem. Mas com o tempo e mais intimidade, algo começou a me incomodar. O fato é que esse rapaz começava a contar diversas de suas experiências pecaminosas, e tentava me convencer que algumas delas eram normais e justificáveis. Algum tempo depois, todas as vezes que ele vinha conversar comigo, começava a me sentir mal, enojado. A minha alma começou a adoecer. Tiveram até vezes em que o hospedei em minha casa. Mas tive que cortar essa relação quase que abruptamente. Se não fizesse isso rapidamente, sinto que meu ser se afundaria.

            De mesmo modo, o convívio contínuo e imaturo com ímpios, pecadores e escarnecedores, certamente poderá influenciar o crente e abalá-lo espiritualmente. São em “rodas de amigos” que nos pegamos falando coisas indecentes e indevidas; alimentando pensamentos vãos; assimilando orientações e conselhos degradantes e inconvenientes. O apóstolo João também nos adverte nesse sentido:

Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão. Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras. (2Jo vv. 8-11) [Ênfases adicionadas]

            A advertência acima é chocante. Mas o motivo da preocupação do apóstolo é para que os crentes não adoeçam. Há amizades que nos adoecem. Há convívios que nos arrancam a leveza de espírito e nos conduzem a um pesar de consciência. Há relacionamentos que nos afastam da Graça, do Conhecimento, da Santidade e da Glória de Deus.

            Às vezes vejo pessoas experimentando um intenso desânimo espiritual. Ao se buscar as raízes dessa falta de desejo e de prazer em Deus, normalmente, encontramos a razão em relacionamentos e amizades. Amados irmãos e irmãs: observem seus círculos de amizade e de relacionamentos. Examinem se tudo isso não tem sido um embaraço para seu relacionamento com Deus. Unam-se, em comunhão plena, àqueles que realmente buscam um viver de santidade e de reverência ao Senhor. Façamos isso, e a alegria do Senhor, bem como o desejo por Sua obra renascerá em nossos corações!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Aforismos e poesias: Lúcidos devaneios - Parte 19




Mar da impiedade

Num badalo de típica angústia,
dita o ritmo à tração dos remos,
indo logo onde não ir queremos,
sempre avante à regra da astúcia;

assim grita o coração minúcias
(tum, tum, tum) contra maré ou ventos,
vendo o lúgubre – nau de detentos –
no afã de não se provar da fúria...

Ah, quão revés tal desolação!
Indo junto ao tão vermelho som,
a guardar num desespero o ardor,

sentem náuseas às ondas do horror,
cujas águas em seu negro tom,
regem o tempo da vil percussão.

Jordanny Silva.