sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Adoecidos e Adormecidos - Parte 2



Capítulo 1 – Amoldados ao presente século.

            Olho para a nossa realidade e lastimo o fato de vivermos muito mais ocupados e embaraçados a questões materiais e de futilidade evidente, do que ao que é eterno. Somos cercados diuturnamente por ideais, tradições, princípios morais e costumes que estão em choque com a Palavra da Verdade. O mais triste é saber que temos nos adequado a toda essa influência maligna e aderido aos conselhos do espírito do anticristo, que já exerce poder e domínio sobre este mundo. O apóstolo João nos afirmou que este mundo está no maligno (1Jo 5.19), de sorte que quem opera aqui, sobre os filhos da desobediência (Ef 2.2), é o espírito do anticristo (1Jo 4.3).

            A igreja sabe disso e é doutrinada todo o tempo acerca desse fato. Mas continua sendo contumaz em seu caminho tortuoso permitindo-se ser conduzida neste. Quanto à possibilidade de se ver livre dessa influência, Paulo nos adverte da seguinte forma:

ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (Rm 12.1,2). [Ênfases adicionadas]

            Ah, que preciosidades são as verdades evidenciadas neste texto! Há uma preocupação tão profunda do apóstolo para com a saúde espiritual da igreja, que ele chega a rogar “pela compaixão de Deus”. Ora, Paulo era conhecedor do extraordinário significado que havia nessa expressão. A compaixão de Deus é o ato mais sublime que já se manifestou no cosmos como graça a toda a criação. O âmago dessa compaixão é a gloriosa expressão de Seu indizível amor, manifesto aos homens na Cruz do Calvário. Essa compaixão foi pintada da mais graciosa e reluzente cor púrpura; foi demonstrada na conversão do coração de Cristo como em cera, derretido em Suas preciosas entranhas pelos nossos pecados. Essa mesma compaixão motivou o próprio Deus a tomar Seu Filho, feito em nossos pecados, possibilitando que fôssemos constituídos, por meio dEle, justiça de Deus (Sl 22.14; 2Co 5.21; Is 53.10).

            Só isso já seria suficiente para nos remeter, em temor e tremor, a um exame de consciência no sentido de buscar viver, em amor, o imperativo que se segue: “que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Evidentemente, o sacrifício acompanha todo o processo sacro, de liturgia íntima, reverente e vívida, piedosa, revestida de santidade aprazível ao Senhor; coberto de uma racionalidade pura, ousada, impetuosa, sincera, consagrada e prostrada diante do mistério do qual Ele está revestido, o qual Ele o é.

            Em seguida, o doutor dos gentios nos exorta a “não nos conformarmos com este século”. Para que essa verdade seja experimentada e aplicada às nossas vidas, é necessário que sejamos “transformados pela da renovação do nosso entendimento”. Esses degraus nos conduzem, incontestavelmente, à experiência inefável, absoluta, prazerosa e gloriosa da revelação da vontade de Deus em nosso interior (Jo 4.13,14; 2Co 4.16).

            Em suma, a nossa doença e dormência está inteiramente relacionada a esse distanciamento que se alicerça na indisposição de nos sacrificarmos, mesmo quando inteirados da sublime mensagem da redenção na Cruz, no sentido de sairmos debaixo de uma influência maligna, insensível, e nos rendermos à vontade soberana de um Deus amoroso. É, pois, uma questão de conformismo e comodismo espiritual. Porém, em quê devo sacrificar-me para me apossar, pela fé, dessa verdade, agradando assim ao meu Senhor e o que devo fazer para ter uma vida espiritual consistente? Tentaremos responder a estas e outras questões no decorrer deste artigo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Carta aos Irmãos da ICADI




CARTA AOS IRMÃOS DA ICADI (MINHA CONGREGAÇÃO)

MEUS irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. (Tg 3.1)

            Antes de tudo, devo lhes informar que o texto abaixo foi escrito debaixo de muitas lágrimas. Cada palavra pesou em meu coração antes de ser dita e eu sentia aguilhões em minha alma enquanto escrevia.

            Há poucos que me conhecem em minha intimidade e tento deixar isso sempre assim, pois desse modo fui criado. Desde cedo recebi dos meus pais, sempre tementes a Deus, ensinamentos básicos e essenciais à fé. Acompanhei também o meu pai em seu pastorado e, por esse motivo, ufanei até por volta dos meus 21 ou 22 anos que nunca galgaria o caminho ministerial. Tenho testemunhas acerca dessa verdade.

            O fato é simples: Odiei qualquer tipo de manifestação de religiosidade, pois sempre enxergava hipocrisia em grande parte dos atos dos ditos “cristãos”. Odiava, com todo o meu coração, qualquer menção de que um dia eu poderia tornar-me obreiro, ministro ou qualquer outra coisa. Meu “chamado” era simples e simplesmente tocar um violão ou guitarra enquanto recebia elogios pela arte e técnica que me acresciam. Tocava por prazer! Tocava não para adorar, mas pelo prazer de tocar!

            Quando comecei a cursar o ensino superior, não demorou muito para duvidar de tudo aquilo que se apresentou como verdade aos meus ouvidos desde que nasci. Para quem não sabe, nasci em berço evangélico e não de qualquer evangélico, mas de pai e mãe que realmente viviam a piedade. Mas as minhas indagações sempre foram muito fortes e, sempre que podia, tentava repudiar grande parte do que meus pais apregoavam como verdade por meio de alguma atitude rebelde. Até mesmo furei a orelha e deixei os cabelos um pouco longos! Dá pra acreditar?

            Tornei-me ateu em segredo. Isso mesmo! Se é que pode existir um ateu secreto, eu me tornei um desse tipo. Não era capaz de me manifestar abertamente como ateu, pois não abria mão de tocar na igreja. Por muito tempo, tocar na igreja, pra mim, era apenas tocar por tocar, visto que já não acreditava em muito do que acontecia, de modo que a fé e a própria existência de Deus se faziam duvidosas para o meu coração jovem. Algumas vezes chegava até a entrada da faculdade, olhava para o céu noturno e pensava: Duvido que Deus exista! Fui alimentado, enquanto isso, por uma vasta literatura que negava a fé de meus pais. Vi-me, assim, cheio de razão para não crer!

            Até que, por meio de questionamentos, passei a reconsiderar a minha apostasia e, quando percebi, tornava a crer em Deus com muito mais força do que pudera ter crido. Não tratarei disso hoje, pois não vem ao caso. Em seguida, já acostumado com alguns movimentos neopentecostais, vi a minha igreja emaranhar-se por uma via de doutrinas novas e absurdamente atraentes. Adotamos o modelo celular e começamos a aplicar o “Encontro com Deus” em nosso meio. Parte dessa narrativa já foi trazida à “Análise do Encontro”. Pouco tempo depois, voltei-me para a Palavra e, observando a ordem argumentativa e os abusos doutrinários que havia no Encontro, tentei confrontá-los um a um.

            Isso me custou caro! Mais caro do que eu poderia imaginar! Durante todo este processo, quando fui percebendo o que me acontecia, já estava participando do corpo ministerial de minha igreja e, algum tempo depois, fui ordenado pastor. Logo eu, que sempre odiei a possibilidade de seguir o caminho episcopal, agora estava ali, sendo ordenado. Recebi essa ordenação com muita dor! Chorava às vezes por horas diante desse fato... Uns poucos ficaram sabendo disso! Nunca me vi preparado para o ministério e assumir um cargo como esse era algo que meu interior sempre repudiava. Repudio até hoje o título e gosto de deixar bem claro que, antes de ser pastor, sou homem e dos mais falhos que se possa conhecer.

            Entretanto, algo que cresceu junto com essa ordenação, não foi uma alegria diante do título, mas um choro diante da responsabilidade. Meu coração se atormenta com angústia profunda e meu corpo se estremece só de pensar no quanto essa ordenação se faz pesada sobre os meus ombros! Às vezes o temor me faz fugir para dentro de mim mesmo de uma forma tão desesperada, que me tira o fôlego! Quantas noites mal dormidas desde a minha ordenação! Vivo uma constante guerra interior onde ao mesmo tempo me alegro com cada vida que Deus coloca sob o nosso cuidado, mas tremo ante, justamente, esse cuidado para que não leve uma vida a um caminho indevido, por conta de uma mensagem ilusória, vã, fútil, egoísta.

            É este zelo que faz ser tão azedo, tão contundente, tão incisivo, tão irredutível quanto às minhas convicções fundamentadas na Palavra da Verdade! Amo tanto a cada irmão e irmã da ICADI, sentindo-me responsável por apresentar suas vidas ao Senhor com pureza. Às vezes choro só de imaginar que alguém não venha a se achegar a Cristo por conta de algo que eu preguei, ou pela minha forma de pensar! Não quis o ministério, mas o Senhor me quis no ministério e isso eu não posso negar!  

            Antes de experimentar o ministério, não tinha consciência do peso que aquelas palavras proferidas por Tiago, irmão de Jesus, percebiam: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.”. Que duro juízo poderia ser este? Tornei-me mestre em minha igreja, ensinando e doutrinando sempre que posso e com tudo o que posso. Mas de que duro juízo este texto trata? Para mim, particularmente, esse duro juízo já é agora (e escrevo essas palavras derramando-me em lágrimas e com uma dor inexplicável em meu interior), presente a cada instante em meu coração, em minha consciência; sufocando muitas das vezes a minha alma! Este texto que apresento a vocês certamente é um daqueles que tem carne e sangue; que tem alma, dor e muita angústia! Todos os dias da minha vida, desde o exercício de meu ministério por meio da Palavra de Deus, são recheados por interpelações e juízos interiores, desde os mais brandos até os mais furiosos! Vejo-me às vezes colérico comigo mesmo a ponto de, literalmente, desejar me esmurrar! É aí que entendo, ainda que um pouquinho, as dores do apóstolo Paulo:

Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser reprovado. (1Co 9.27).

            É por isso que rejeito tudo aquilo que de alguma forma apenas encherá os corações, daqueles que foram confiados ao meu ministério, de ilusão; ou qualquer pregação que julgo ser fraudulenta, presto-me a alertá-los denunciando com esmero, temor e tremor! Quando, em algumas das vezes, percebo em mim vanglória por ter chegado à consciência ou entendimento de uma doutrina, ou revelação de um texto da Palavra que não é bem claro a outros, corro para os pés do meu Deus e rogo a Ele que me quebrante, para que a glória nunca seja minha! Vocês não imaginam o quanto tenho sido quebrantado!

            Não posso coadunar com nada daquilo que se difere de minha consciência em Cristo e na Sua Palavra! E por isso reitero, no amor, que me sinto compelido a denunciar os atos fraudulentos e irresponsáveis daqueles que, por vaidade, recebem o ministério como diversão, enchendo templos e conquistando vidas para uma ilusão; ou ainda para uma extorsão em massa! Não! Basta! Será que alguns pastores não percebem que nós estamos tratando com vidas? São vidas! São pessoas! São almas sedentas da verdade! São almas sedentas de afago, de carinho, de amor! São crianças tão desesperadas pela verdade, que se entregam a qualquer um que se mostre um pouco idôneo, e que afirme que fala em nome da verdade... Não posso coadunar com isso!

            Não brinco de ser pastor! Não! Nunca! Faço o possível para entender a Palavra da Verdade, interpretando-a conforme a Graça do Espírito Santo! Eu sei o que sinto e o que sofro! Eu tenho entendido, dia a dia, o que esse ministério tem me custado... Quem me conhece sabe, inclusive, que sempre fugi do título (pastor) como a fauna se põe em fuga diante de uma floresta em chamas! O juízo de Deus já se opera sobre mim, desde já!

            Falo isso às ovelhas que têm sido postas em nossos cuidados! Amo a vocês de todo o meu coração. Peço a Deus que me tire deste mundo precocemente, caso eu venha em algum momento tratar com leviandade a pregação de Sua Palavra; ou que me sustenha até que este serviço seja terminado, para a Sua Glória! Serei azedo, como voz profética, enquanto o Senhor me sustentar! Serei apaixonado por este povo maravilhoso que o Senhor tem colocado aos nossos cuidados e, principalmente, pelo meu Senhor! Tu és o meu Deus, a Vida da minha vida!

            Tudo isso que escrevi a vocês é testemunhado comigo, no Espírito Santo, em minha própria consciência, conforme os dizeres dolorosos do doutor dos gentios (Rm 9.1).

            É com dor, com pesar, temor e tremor que encerro minhas palavras desejando a todos, de todo o meu coração, a Paz do Senhor!

              Em Cristo,

            Jordanny Silva.