sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 11



CAPÍTULO 9 – A vitória que vence o mundo!

            Após um extenuante estudo como este, parece que não há mais solução para a igreja evangélica brasileira. Ora, não temos tido, sequer, respaldo para responder resolutamente ao avanço de bandeiras tais como a do homossexualismo, do aborto, da eutanásia e de muitos outros movimentos que têm alcançado prestígio, espaço e até mesmo lugar na consciência de nossa população.

            Contudo, tenho crido, não por meio de um otimismo surreal, mas por meio de uma confiança em Deus, de que esse quadro ainda pode mudar. E, ainda assim, tenho certeza que a verdadeira Igreja do Senhor, como corpo imaterial e não somente uma instituição organizada segundo os parâmetros legais de nossa sociedade, irá manter um testemunho compatível com a Palavra da Verdade.

            A nossa fé é capaz de vencer o mundo (1Jo 5.4); e nossa fé se manifesta por meio de nosso testemunho. Sonho com o dia em que cristãos vão exercer a fé de modo ativo, adotando crianças – ah, se as famílias cristãs estruturadas se permitissem viver o amor por meio da adoção; ajudando às pessoas que têm vivido em um estado de miséria; manifestando-se ferrenhamente contra a blasfêmia do aborto; amando aos homossexuais e, por meio disso, conquistando-os para o Senhor Jesus, tal como podemos amar a adúlteros, ladrões, assassinos ou qualquer outro pecador, certos de que serão transformados pelo poder do evangelho; olhando para o pai de família desempregado e participando de seu sofrimento; olhando para mãe solteira e lhe oferecendo ajuda no meio da aflição; criando escolas e orfanatos onde o ensino das Escrituras poderá ser a primazia, levando cativos os entendimentos dos pequeninos a Cristo.

            Mas não somente isso. Por meio de atitudes pequenas, cada um de nós, pode ser um testemunho vivo da Palavra de Deus. Na sua escola, trabalho, rua ou na sua casa aproxime-se em amor das pessoas. Não seja apático quando vir alguém chorando; fale de Deus a todos quanto você puder e testifique por meio de uma vida irrepreensível. Que os pais amem seus filhos e os tenha, verdadeiramente, como herança do Senhor, que deve ser cuidada, zelada e consagrada a Ele; sejam pacientes e disciplinem em amor, e não por ira. Que os filhos sejam obedientes, honrando seus pais, elevando o testemunho cristão a um patamar de glória e honra ao nome do Senhor. Sejamos zelosos nos tratos; cuidadosos com nossas dívidas pessoais, para que o nome de Cristo não seja blasfemado. Sejamos, também, educados dando honra aos mais velhos ou mesmo a uma mulher grávida dentro de um ônibus, ou na fila de um banco, ou onde quer que seja; nunca perdendo a oportunidade de glorificar o nome de Jesus. Sejamos humildes e mansos na divulgação do evangelho, deixando de lado toda a soberba e o julgamento temerário, manifestando o amor de Cristo. Sejamos cuidadosos com a natureza, não jogando lixo no chão, ou sujando indevidamente. Sejamos pacientes e cordiais no trânsito, demonstrando sempre o cuidado e a preocupação com aqueles que circulam junto a nós.

            Todas essas atitudes parecem ser pequenas, mas fazem toda a diferença. E por meio delas, podemos caminhar para atitudes maiores. Que nossos salários não sejam nossos, mas sejam do Senhor, para ser usado, conforme a Sua Graça, ajudando a necessitados, primeiramente aos fiéis e, em seguida, aos que são de fora.

            Creio que há solução para a manifestação da fé cristã entre os brasileiros; mas essa solução se baseia, principalmente, em nossa conduta. Não perca a oportunidade de ser um canal de bênçãos para a vida daqueles que te cercam. Não perca, nunca, a oportunidade de viver essencialmente para Deus.

            Se agirmos assim, calaremos a voz de todos aqueles que se levantam contra a Igreja do Senhor, ainda que impinjam, sobre nós, sofrimento; também poderemos conter o avanço de diversos movimentos contrários à Palavra de Deus, até que Ele venha. Mais uma vez reitero que o maior argumento e o mais eloquente silêncio, que gritará altissonante e com voz de trombeta, contra o avanço do mundanismo é o testemunho Cristão. Que Deus nos abençoe e nos conduza nesse caminho!

E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo. (1Ts 5.23)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 10



CAPÍTULO 8 - Onde Está o Amor?

            Ah, como seria maravilhoso se a igreja caminhasse no amor. Paulo, em sua primeira epístola escrita aos irmãos de Corinto, de modo poético, inteligível, completo e definitivo, fala acerca dessa maravilhosa graça de Deus, que nos é derramada por meio de Seu Espírito. Já houve diversos sermões baseados nesse magnífico texto, mas gostaria, novamente, de trazê-lo à tona:

AINDA que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; (1Co 13.1-8)

            A completitude deste texto nos deixa boquiaberto. Dentro de cada palavra escrita por inspiração divina, se poderiam escrever livros e mais livros. Mas tentarei ser breve e objetivo. Não é meu intuito discorrer profundamente por tudo que este texto revela por dois motivos básicos: o primeiro, é que meu intelecto é muito limitado para alcançar a compreensão do que é, essencialmente, o amor – ainda o conheço apenas em parte, mas um dia o conhecerei como sou conhecido; o segundo, é que tenho por objetivo apenas atiçar o senso crítico dos ledores, de sorte que, cada um, poderá, no Espírito, alcançar maior discernimento.

            Pois bem, de forma objetiva, utilizarei este magnífico trecho bíblico para comparar a realidade do cristianismo atual. Nesse sentido, o apóstolo dos gentios começa escrevendo que, mesmo diante do dom de se expressar na língua dos anjos e dos homens, na falta de amor, isso se compararia ao sino que, por ser vazio, apenas serve para fazer barulho. Não seria essa a nossa realidade atual? Em grande parte dos ajuntamentos evangélicos que vemos há muito barulho, mas pouca ou nenhuma expressão ativa. Isso se dá por falta de amor. Ainda que se diga que se está fazendo algo por amor, se, contudo, não compreendermos o que ele é, pelo menos em parte, não há como vivê-lo.

            Logo em seguida, Paulo nos exorta que mesmo diante da mais profunda vidência, fundamentada em profecia e ciência do mais alto nível, acompanhado de uma fé suficiente para realizar maravilhas indiscutíveis e admiráveis, sem amor não alcançaria valor algum. Atualmente, não diferentemente, temos visto uma igreja que roga para si uma fé inabalável, um conhecimento invejável e uma mensagem profética irrefutável e que, entretanto, não tem alcançado expressividade diante do mundo, não sabendo responder satisfatoriamente por meio de um testemunho de fé, acompanhado de boas obras, efetivamente relevante. O amor é, por natureza, obra do Espírito; logo, sem o amor, a nossa fé é morta, visto que não está acompanhada de obras. Por isso o apóstolo diz que tudo isso, sem amor, é igual a nada. É como multiplicar os maiores números por zero; o resultado será sempre zero.

            Por conseguinte, Paulo nos adverte que quaisquer obras de significado palpável, tal como desfazer-se de toda a nossa riqueza para doar aos pobres ou mesmo oferecer-se num martírio louvável, sem amor não nos teria qualquer proveito. Vemos, nesse sentido, os espíritas que, buscando sua salvação ou mesmo uma evolução espiritual, fazem obras e mais obras sociais. Mas perdem tudo diante de uma soberba e orgulho, achando-se mais evoluídos e mais bondosos que os demais; tudo isso não tem valor. De mesmo modo, há mulçumanos que se entregam ao martírio, fazendo-se homens-bomba. Porém, não alcançam qualquer proveito pessoal. Assim, a igreja que realmente quer viver a essência do Espírito, deve caminhar nas boas obras e no testemunho mesmo diante da morte; mas sempre acompanhado do que é fundamental: o amor.

             Em continuidade, o apóstolo nos traz características maravilhosas do amor, das quais não temos visto na igreja atual. O cristianismo ocidental moderno tem fugido do sofrimento, conquanto o amor seja sofredor. O cristão contemporâneo, em sua grande maioria, não tem sido benigno, mas, sim, invejoso, leviano e soberbo; ao contrário do que o amor, verdadeiramente exprime. Também temos visto um evangelho indecente, baseado em interesses pessoal e classista, cheio de malícia e astúcia, buscando respaldo político para defender os interesses da igreja; não é assim que o amor nos ensina. O crente revestido do amor ágape não fica silente e estático diante do domínio da injustiça, ainda que lhe custe a própria vida; mas vive na liberdade que só a verdade lhe pode dar. Temos testemunhado até mesmo evangélicos que, sendo pessoas públicas, são capazes de orar a Deus agradecendo a propina que estavam recebendo.

            O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Como seria maravilhoso ver a igreja de Cristo tomando posse dessa verdade. Mas, ao contrário disso, vemos campanhas com os seguintes dizeres: não sofra mais. Ah, quantas inverdades têm sido veiculadas e dispersadas entre os incautos. É por esse motivo que o evangelho atual tem falhado tanto. O amor, porém, nunca falha.

            Por enquanto, o vemos obscuramente, como por um espelho (v. 12), mas em breve o veremos face a face, e o conheceremos tal como somos dEle conhecidos. Em breve sairemos de nossa infância espiritual e, na glória, deixaremos as coisas de meninos e agiremos como homens maduros (v. 13). Lá, as tribulações aqui vividas, serão uma simples lembrança da graça de nosso terno Salvador. No céu não haverá necessidade de fé, ou de esperança; mas o amor será o nosso estandarte, a nossa direção e o nosso fundamento. Deus é amor (1Jo 4.8)! Glória ao nome de Jesus, que nos amou primeiro!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Aforismos e poesias: Lúcidos devaneios - Parte 17


Um Momento

Como definir o tempo? Anos, meses, semanas, dias e horas são construções de nossa organização... Mas isso define o tempo? O nosso tempo, talvez não... Pois nosso tempo não se constitui e nem se submete a essa organização... O nosso tempo se define no momento... Não em uma hora, minuto ou segundo; mas no momento...

Não são as horas ou minutos que nos marcam, ainda que marquemos algo neles... São os momentos que nos marcam e, como dominadores desesperados pelo controle, acreditamos que podemos marcar, em determinada data e hora, determinado momento... Mas, repito, os momentos é que nos marcam, seja para o bem ou para o mal... São os momentos que ditam os arrependimentos, as alegrias, as saudades, as realizações... E o momento não está submisso a nada que possamos fazer, pois ele se constitui de tão minuciosa sequência de atos, que por si só representa uma complexidade ímpar, mas fixada na memória... As horas, os dias, os minutos podem, no máximo, ser componentes do momento... Por isso, aquele aniversário se torna inesquecível; o encontro daquele dia, o mais romântico; o sorriso daquele minuto, o mais belo; aquele acidente o mais terrível... O dia e as horas pertencem ao momento, mas o momento não lhes pertence...

Olhe para as crianças: se importam tanto com os dias, horas, minutos? Não! Mas conseguem, com destreza de um mestre, fazer de cada minuto um momento... Um recém nascido tem mais entendimento acerca disso do que qualquer um de nós... Veja como ele se deleita, aproveita e se submete ao simples instante em que é amamentado... Naquele momento, não minutos, ele sente o cheiro de sua mãe, ele saboreia o leite... Ele sente o afago... Ele ouve as batidas do coração que outrora lhe fora tão próximo, quando ainda se via no útero materno... Se deleita de modo tão profundo naquele instante, que dorme ao som da voz, ao calor do corpo, à segurança do amor...

O momento se eterniza num instante... Faz cada segundo tão longo quanto anos inteiros... Faz um segundo perdurar por uma vida inteira... Um momento transcende gerações inteiras enquanto as marca... Um momento se faz jugo e fardo... Um momento alcança o profundo da alma e pode firmar residência permanente ali, ou pode ir-se embora, mas sempre deixará seu aroma nostálgico nos ventos da memória...

Há momentos que nos aprisionam... Mas há momentos que nos libertam... A dor da culpa pode representar uma cadeia para alma... Mas o momento em que o perdão é concedido e aceito representa a possibilidade de voar...

O tempo carrega consigo a juventude, a beleza, o vigor... Mas o momento pode trazer a esperança e o conforto da experiência; pois tudo isso é concedido no específico momento... As estações se repetem ano após ano; a Terra faz o seu giro e torna à posição de costume; a Lua protagoniza, num espetáculo, as suas fases... Tudo isso orienta o nosso tempo... Mas, enquanto o tempo se estende, de modo aparente linear, os momentos o encurvam, o submetem, o fazem prostrar... O tempo sempre se renderá ao momento... Quem tem o poder de dominar o momento não estará limitado ao tempo...

Alguns momentos se transpuseram de maneira tão sobreexcelente ao tempo que o próprio tempo não os pôde conter nem definir em seus limites... Falo do Cordeiro que, apesar de ter sido morto há aproximadamente 2000 anos atrás, já o havia sido desde antes da fundação do mundo... Um momento que transcendeu, subjugou, dominou, venceu e desintegrou o tempo... Um momento que, por natureza, é atemporal e por mais que se conceba que tenha acontecido em um determinado dia do calendário, se transpôs e fez o calendário girar, pular, rodopiar, perder, voltar e ir além... Fez o calendário ser tão importante quanto poderia ser para qualquer passarinho que canta na aurora e no crepúsculo...

Para reflexão leia: Eclesiastes 3:1-8 e Gálatas 4: 4 e 5

Jordanny Silva

terça-feira, 22 de maio de 2012

Aforismos e poesias: Lúcidos devaneios - Parte 16


Distante 

Veio como lâmina cortante
E partiu o véu ao meio...
E pude ver o tesouro...
Veio como bússola
E me apontou veraz vereda...
E pude achar o tesouro...
Veio como terremoto
E fendeu terra e rocha...
E pude ter o tesouro...
Cortou-me e partiu-me;
Norteou-me e desbravou-me;
Estremeceu-me e fendeu-me...
E entendi o que eu mesmo
Havia encoberto e perdido e enterrado...
Que poder tens, ó Distância?
Tu que levas tudo para longe...
Que poder tens, ó Distância?
Tu que trazes para bem perto a saudade
Que é lâmina e bússola e tremor...
Que poder tens, ó Distância?
Tu que revelas o valor do que, não tendo valor,
É puro e simples valor...
Que poder tens, ó Distância?
Círculo que és:
Põe-se longe até que se põe perto...
Que poder tens, ó Distância?
Tu que me condenas a seguir tua sina
De encontros, desencontros e reencontros...
De tão próximo de saber-te
Distei-me de entender-te, fiel companheira
...

 Jordanny Silva

Gama – DF, 17 de maio de 2012.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Aforismos e poesias: lúcidos devaneios - Parte 15




Lágrimas

Contradiz-se o que sinto,
De lacunas me preencho,
É quando as lágrimas cobrem
Vãos, vazios.
Rubra face umedecida
Que aos sussurros algo dita,
E os ouve o coração atento.
Mas há essência surda,
Que é também coração morto
Ou estrangeiro da emoção:
Ao alarido que dos olhos
Salta aguado e regando,
Não entende a linguagem,
Não decifra sua razão.
Tal surdez tem alto preço,
Pois nela o amor se faz incompreensível
E onde o amor é inexperimentável.
E se as lágrimas não expressam verdade,
E aos intentos mais profundos ocultam,
Neste oculto se revela
A alma miserável,
Que, se ganha o que deseja,
Vê perdido o que precisa,
E, insensível, nem percebe.
Já nas lágrimas sinceras
Muito há que se ler e ver e sentir:
Lê-se amor-canto em poesia;
Veem-se teias-esperança,
Quais tecidas são prisões
De saudade, que é nó forte;
Na emoção do reencontro,
Pintam a tela da alegria,
Temperando a alma insípida,
Colorindo a solidão;
Emudecem o eloquente
E ao sabido fazem tolo;
A memória ganha vida
E se faz dramaturgia;
Tornam o canto de ninar
Nas mais belas sinfonias.
Sim, são frágeis e singelas!
Sim, são ricas e são nobres!
Sim, são meigas e são fortes!
Sim, são caras e gratuitas!
Pois são simples e simplesmente,
Lágrimas...





Para reflexão: "O choro pode durar uma noite, mas alegria vem pela manhã". Salmos 30.5b


Gama – DF, 22 de março de 2012.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Aforismos e poesias: lúcidos devaneios - Parte 14




Liberdade

Quando o olhar mais atento encontrar o limite
Quando não mais ouvirmos, bem suave, à voz
Quando a paz ou o sorrir perder chão para o algoz
E a verdade mostrar a maldade que existe

Que nos olhos, ações e palavras, reside
Manifesta na vida, e na alma; em nós
Inspirando, o pecado não nos deixa a sós
Donde nem mesmo há fuga, pois, em nós, persiste

Lembra da amarga Cruz, lembra da vil vergonha!
Lembra do Inocente e do fel, do madeiro!
Lembra o preço da paz que advém do castigo!

Pois dali redenção no amor, sim, emana
Enxertados ao Caule alguns zambujeiros
Aos quais sempre, o bom Mestre, lhes chama: amigos!

Jordanny Silva
Gama – DF, 13 de fevereiro de 2012.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Aforismos e poesias: lúcidos devaneios - Parte 13

Posso te ouvir

Posso ouvir meu coração...
Bem baixinho, quase num sussurro
O som de uma respiração,
Que é mais pesada a cada instante
Posso ouvir meu coração...
Numa dor que nasce no peito
E vai à garganta:
É como engolir espinhos...
Posso ouvir meu coração...
Fontes nascem em meus olhos
E delas as águas seguem
Nas linhas da face agora há riachos
(Nos trilhos do amor, talvez, cansaço)
Posso ouvir meu coração...
Canção triste que reverba
No vazio da alma ecoa
E estremece as paredes do meu ser
Posso ouvir meu coração...
Nas sinas do rosto já há rios
Que alcançam a boca,
Que nos lábios brilham
E à língua salgam...
Posso ouvir meu coração...
Então me aperto forte
Então me encolho
Em soluços...
Posso ouvir meu coração...
Mas preferiria, tão somente,
Ouvir o teu e sentir o teu enquanto seria,
Por um momento e mais uma vez, teu...
Posso ouvir meu coração...
Já não estás aqui
Já não és de mim
Seguiste um caminho que,
Meu mestre, Agora, não me permite ir
Posso ouvir meu coração...
Por um minuto só,
Seria possível
Tocar-te como sempre fiz?
Posso ouvir meu coração...
Que entoa o som da nostalgia:
Teu riso que era minha música;
Teu abraço que era minha sinfonia;
Teus olhos que me eram regentes...
Posso ouvir meu coração...
Na lembrança ainda toca
E dali, nunca cessará,
Teu ninar, teu chorar,
Teu sorrir, teu falar...
Pois, mesmo não estando aqui,
Posso te ouvir...
E poderei enquanto viver
Porquanto hoje e sempre e ainda
Posso te ouvir em meu coração...


Jordanny Silva

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aforismos e poesias: lúcidos devaneios - Parte 12


Lua Branca

Em ti, ó Lua Branca, quero dormir
e, quem sabe, ver... Quem sabe?
No teu amor repousar a cabeça
e, quem sabe, ver... Quem sabe?
Voaria além dos montes
e, quem sabe, veria... Quem sabe além?
E se não é possível voar
sonharia contigo?
De lá, quem sabe, veria...
E se eu chorar
quem sabe das lágrimas
pérolas eu colha
e te faça um colar, ó Lua Branca...
E, quem sabe, veja... Quem sabe?
Em teus braços, doce Lua Branca,
deleitar e me esconder da noite
e, quem sabe, ver... Quem sabe?
De névoas, alma minha, hás cercada...
Já não te vejo, Lua Branca,
mas sei que sonhas além das nuvens...
Quero ir a ti
e, quem sabe, ver... Quem sabe?
Guie-me, Lua Branca, para onde há descanso!
Pois as névoas te tornaram gris
mas sei que és pálida além do vapor,
talvez pela distância.
Por que, ó Senhor dos ventos,
trouxeste as densas nuvens?
Querias ocultá-la de mim?
Porém, ainda te vejo, Lua Branca,
por janelas que do céu se abrem...
Minhas súplicas e esperanças
correm para ti, Senhor dos ventos:
Sopre para longe a neblina...
E quem sabe eu veja... Quem sabe?
Ilumine minha noite, Lua Branca,
com a luz que há em ti, mas, sei, não é tua...
Permita-me vê-la, Senhor dos ventos!
Permita-me tê-la, Senhor da luzes!
E quem sabe eu veja... Quem sabe?


Gama – DF, 30 de dezembro de 2011.

Jordanny Silva

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 9



CAPÍTULO 7 – O Problema da Fé Deturpada


Quem não já conheceu alguém que, numa espécie de desencargo de consciência, se expressou dizendo: “Estou fazendo a obra de Deus!”? Contudo, no atual contexto evangélico, até que ponto essa expressão alcança verdade?


Nós, que somos cristãos, vinculados à reforma protestante ou mesmo aos demais seguimentos evangélicos, cremos em absoluto que o que salva é a fé em Jesus Cristo, e não as obras. Já foi demonstrado nesse de modo extenuante que, conquanto sejamos salvos pela fé, a finalidade da nossa salvação é as boas obras. Em curtas palavras: não somos salvos pelas obras, mas para as boas obras!


Contudo, há a necessidade de se manter um fundamento doutrinário não só coerente, mas imprescindivelmente decorrente da Palavra da Verdade. São nas Escrituras que encontramos a nossa regra de fé e de prática. Logo, as distorções doutrinárias têm, inequivocamente, alcance negativo na profissão de fé do cristão. Ou seja, uma igreja doutrinariamente fraca, ou mesmo equivocada, gera cristãos imaturos e, muitas das vezes, não salvos em Cristo Jesus: cristãos apenas nominais. Estes não se mostram capacitados a vencer em paciência à provação e têm, mormente, uma visão turva, raquítica, ou equivocada acerca da natureza de Deus. Daí a necessidade de o corpo ministerial de qualquer que seja a denominação evangélica, observar com todo esmero e minuciosidade, se a doutrina apresentada pela congregação está fundamentada na Bíblia Sagrada.


Uma fé errônea desencadeia uma série de atos igualmente errôneos por parte da congregação. Ou seja, a profissão de fé pode até ser sincera, mas não terá uma manifestação efetivamente adequada à boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2). E o que normalmente ocorre, é que os crentes dessa igreja passam a enganar-se achando estar fazendo a obra de Deus, mas apenas caminham desenvolvendo-se nas obras da carne. Não obstante, temos visto, ao contrário do exemplo de mansidão e humildade de Cristo (Mt 11.29; Fp 2.5-8), uma crescente arrogância e prepotência no meio dos cristãos.


Junto ao orgulho carnal manifestado por esse tipo de cristianismo, aumenta-se o número de dissensões, facções, intrigas, falcatruas, estelionatos, frustrações e tudo mais que se possa imaginar de ruim no meio das denominações ditas evangélicas. A consequência é um descrédito crescente em relação à fé cristã, principalmente a verdadeira, que se fulcra na inerrante Palavra de Deus.


Mais uma vez a autoridade que nos foi outorgada, enquanto embaixadores de Cristo, se vê abalada mediante, exclusivamente, a um testemunho que, apesar de rogar para si o título de cristão, não passa de carnal. O poder que Cristo nos outorgou, por nossa culpa, tem se transformado em motivo de chacotas em programas de humor, em músicas seculares, em críticas por parte de inúmeros “pensadores” contemporâneos. O próprio nome de Cristo já não gera temor nos corações; pelo contrário, tem se tornado risível ao público secular expressões do tipo: “o sangue de Jesus tem poder”; “em nome de Jesus”. É triste imaginar que chegamos a esse patamar e, por incrível que pode parecer, a culpa reside em um evangelho falsificado, inoperante, arrogante e idiotizado que sai da boca de muitos que se dizem cristãos.


Enquanto isso, quando a fé bíblica é apresentada ao mundo, enfrenta uma barreira na consciência e nos corações. Na mente dos ouvintes incrédulos segue logo uma gama de imagens de tudo aquilo que escandaliza e desonra o nome de nosso Senhor. Tudo isso porque temos profanado o sangue da aliança com uma falsificação do evangelho baseada em nossas concupiscências! Isso me faz lembrar o que nos exorta o escritor de Hebreus:


“De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.29-31)


O grande problema, e reitero, é que esse “cristianismo” crescente é muito mais atrativo do que o verdadeiro cristianismo, pois vai de encontro direto com os desejos de nossa mente decaída. Enquanto isso, infelizmente, milhões de pessoas não têm encontrado o verdadeiro amor de Cristo, sendo enganadas por falsas promessas, por profecias irresponsáveis que apenas geram decepções.


O bem que devia fluir de nossas vidas por meio do Espírito Santo, é substituído por experiências absurdas; por comportamentos egoístas; por emoções vazias de ação. Tudo isso é vão. São vendavais de doutrinas que atingem ferinamente cristãos imaturos, inconstantes e carnais (Ef 4.14).


A mediocridade desse “cristianismo” é manifesta na crença de que o simples fato de ir à igreja no fim de semana, ou participar de um grupo de jovens, varões ou irmãs, já representa cuidado para com a obra de Deus. Ora, agir assim é como cobrir-se de um manto religioso retalhado que, no fim das contas, não tapa o frio da iniquidade que se opera interna e externamente a cada homem e mulher que habita esta existência aqui. Acreditar, simplesmente, que participar de um ministério de louvor, ou da classe de escola dominical, ou cantar junto com um conjunto de mocidade, ou dançar em um ministério de coreografia congregacional, é estar fazendo a obra de Deus é tão absurdo quanto crer que um câncer no cérebro pode ser curado com a aplicação de morfina: alivia um pouco a dor da consciência, mas não afasta a morte inevitável.


Outros acreditam que fazem a obra de Deus por estar o tempo todo falando para os outros de Deus. Não me posiciono contra a pregação do evangelho em todas as suas formas possíveis, inclusive por meio da arte musical, teatral ou qualquer outra. Mas o que realmente fala ao coração incrédulo é a mensagem do testemunho! Meras palavras acerca de Deus podem não comovem o coração de alguém, mas atitude cristã incomoda; ajunta brasas na cabeça do descrente (Rm 20.21). E da atitude do crente em Cristo deve-se esperar, justamente, o inesperado: o amor (Mt 5.39-48).


Como já dito, a deficiência na compreensão dos fundamentos da fé bíblica apontam para falta de expressão efetiva do cristianismo na atualidade. Alguns podem até argumentar que os evangélicos, no Brasil, têm significativa expressão. Mas essa não é a realidade. Temos, sim, expressão política, quantitativa, comercial. É inegável, por exemplo, que várias cadeiras parlamentares são ocupadas por evangélicos. De mesmo modo, são muitos cristãos atuando em altos cargos da administração pública e do empresariado secular. Contudo, o que esse alcance tem representado no meio secular? Temos refletido a glória de Deus, ou apenas elevado nosso poderio, nosso domínio? Tenho lá as minhas dúvidas.


Para se ter uma ideia, junto às camadas políticas os evangélicos representam bem a defesa dos interesses relativos à igreja. Porém, tenho percebido que não há altruísmo, apenas classicismo. O que quero dizer é que são poucos os parlamentares evangélicos que se preocupam com questões desvinculadas do interesse específico da classe evangélica. Isso já revela que a preocupação do cristão atual é apenas com assuntos relativos ao seu bem estar, ao seu conforto.


Chama atenção dos poderes midiáticos, principalmente televisivos, o aumento perceptível do número de evangélicos. Há poucos anos atrás já somávamos o equivalente a vinte dois milhões de cristãos que professavam a fé evangélica em todo país. Com isso, o nosso orgulho mais uma vez é enaltecido porquanto a nossa expressividade numérica se vê majorada. Entretanto, deveríamos mais uma vez nos gloriar de tudo isso? Com um exército de 22 milhões de evangélicos, que rogam arrogantemente para si uma autoridade exponencialmente superior a dos que estão no mundo, as desigualdades sociais de nosso país não eram para ter minorado de maneira significativa? Se a nossa realidade reflete outro resultado, fica claro como a luz do dia que há algo errado com a nossa fé. Ou seja: ou o problema reside na fé fundamentalmente cristã, que seria então vã, vazia, ineficaz e ineficiente; ou o problema reside em nós mesmos que não a temos compreendido e vivido, pelo menos, em seus princípios fundamentais. A história nos tem convencido de que a segunda alternativa é mais provável. A falha está em nós, em nossa incapacidade de nos examinarmos a nós mesmos, em nossa contumácia em não examinarmos a nossa pragmática religiosa. Essa displicência tem feito com que muitos acreditem ser salvos enquanto caminham, apressadamente, pelo caminho largo.


Essa nova pragmática cristã que busca resultados numericamente visíveis cria uma vasta literatura baseada na ciência humana. São, por exemplo, técnicas empresariais aplicadas ao desenvolvimento da igreja, com estudos específicos, inclusive, na localidade onde se pretende iniciar um trabalho evangelístico. Desse modo, conforme os dizeres dos comerciantes, “o cliente sempre tem razão”. Em outras palavras, já não importa agradar a Deus, mas aos homens. E a expansão desse cristianismo é envolto num sincretismo de filosofias, ideias, métodos, sentimentos, culturas e tudo mais que se possa imaginar. Não faço aqui apologia a um asceticismo pleno, mas convido ao raciocínio acerca do que realmente é conveniente ao verdadeiro evangelho (1Co 6.12; 10.23).


A santidade tão exaltada no texto sagrado é posta de lado por uma conveniência maquiavélica, afinal “os fins justificam os meios”. Se a igreja tem crescido, se as ofertas e dízimos estão aumentando, então está dando certo; se há um notável quórum, estamos assim debaixo da vontade de Deus; estamos, enfim, fazendo a obra de Deus! Seria essa uma verdade? Verdade eu tenho certeza, em Cristo, que não é; porém, é uma realidade lastimável.


Em lugar de santos, em Cristo Jesus, tem crescido o número de estelionatários que se dizem cristãos. Estes trazem uma mensagem apelativa que mexe com a esperança dos espectadores, os quais apostam todas as suas fichas naquela “verdade”; e se não der certo o problema não reside no emissor da mensagem, mas no ouvinte que não teve fé suficiente para receber seu “milagre”. Para clarear o que se pretende argumentar, a pouco mais de um ano assistia a uma reportagem na TV aberta que analisava alguns supostos milagres ocorridos em núcleos pentecostais. Havia um homem que se dizia pastor e que tinha uma filha, ainda criança, que avocava para si dons miraculosos de cura. Pois bem, em uma das reuniões dessa igreja – que por sinal estava cheia de espectadores – se achegou um jovem que era portador de um tumor maligno. O culto se desenrolou como num espetáculo de supostos milagres e curas, ocasião em que foi afirmado que aquele rapaz havia sido curado definitivamente de seu câncer. Ocorre, contudo, que poucos dias depois aquele moço veio a falecer e, quando o pastor foi inquirido acerca desse fato, a resposta foi a seguinte: “Aquele rapaz recebeu a cura, mas não teve fé o suficiente para segurar aquela cura”. Fiquei tão estupefato com aquela afirmação, que me deu vontade de exigir, como cidadão, a prisão daquele homem que se dizia pastor. Ora, então, após ter sido garantida a sua cura de modo irresponsável, a morte daquele rapaz ainda era sua culpa, por não ter segurado a cura por meio da fé?


É assustador imaginar que esse tipo de pregação alcança um número extremamente maior de espectadores do que o verdadeiro evangelho. Ao mesmo tempo, para quem tem um mínimo de inteligência – e, com segurança bíblica, posso afirmar que os filhos das trevas são mais prudentes que os filhos da luz (Lc 16.8) – esse tipo de cristianismo é nauseante, tanto para os que participam da Igreja de Cristo, quanto para os que estão de fora.


Por outro lado, a fé em Cristo não se apresenta por emocionalismo apelativo e irracional, ou por métodos complicados e extenuantes. Representa, sim, atitudes espirituais: palavras cheias de discernimento (1Co 2.14-16); ouvidos mais atentos do que bocas displicentes (Tg 1.19); línguas voltadas a bendizer até mesmo àqueles que nos maldizem (Tg 3.2-10; 1Pe 3.9,10); olhos purificados, distantes do julgamento temerário (Mt 7.1; 6.23; Lc 6.37; Tg 4.11; Jo 7.24), voltados, porém, para o que edifica; mãos estendidas a quem necessita de ajuda, pois esse é o próximo a quem Deus nos oportuniza amar (Lc 10.27-37); guardar e perseverar na doutrina, e na oração e no partir do pão (At 2.42); não ultrapassar o que nos diz a Palavra da Verdade (1Co 4.6); crescer, dia após dia, na graça e no conhecimento de Cristo (2Pe 3.18). Tudo isso que foi citado importa, inequivocamente, na obra de Deus. Esta, por sua vez, não se manifesta como um seguimento religioso moralista confinado a quatro paredes, mas como um caminho a ser percorrido por todo salvo em Cristo Jesus, e de alcance incalculável neste mundo decaído! Glória ao nome do Senhor!