sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 8



CAPÍTULO 6 - Qual Tem Sido a Preocupação do Crente da Atualidade?




Em proporção ao desenvolvimento tecnológico e científico da atualidade, encontramos o aumento de falsos mestres e falsos profetas. Tudo isso foi profetizado por Cristo, bem como pelos diversos escritores do Novo Testamento (Mt 7.15; 24.11; 2Co 11.5; 2Ts 2.3-15; 1Tm 4.1-4; 2Tm 3.1-5; 4.3,4 etc.). A apostasia generalizada é a regra dos últimos dias e é o que temos testemunhado. Não obstante, as próprias mensagens são focadas muito mais no homem do que no próprio Deus. O que verdadeiramente acontece, é que o número de falsos mestres aumenta segundo o próprio interesse de seus expectadores, fãs e admiradores. Esta é uma verdade irrefutável!




É, por exemplo, crescente a procura por livros cristãos voltados para a auto-ajuda. De mesmo modo, dentro das igrejas assistimos a uma pregação triunfalista, onde cristãos se julgam tão senhores de si, que passam a determinar bênçãos e a decretar vitórias. Tais crentes se julgam deuses, com poderes especiais e quase absolutos, albergados por uma fé que se baseia no poder da fé.




Nos ajuntamentos evangélicos, ao contrário do exemplo de Cristo, o que vemos é um grande número de pessoas que se dizem cristãs, cheias de arrogância, cheias de si. Parece um bando de crianças mimadas acostumadas a caprichos com um Deus a sua mercê, para atender todos os desejos de seus coraçõezinhos. Apostam na prosperidade material e no sucesso nas finanças e na vida pessoal como sendo o propósito principal e inegociável sobre o qual Deus lhes colocou. Logo, berram que o sucesso, o dinheiro e/ou a fama são seus direitos e que Deus lhes dará custe o que custar. Ao mesmo tempo, apresentam um novo tipo de fidelidade baseada em barganhas onde os dízimos e eventuais ofertas cumprem o papel implícito, ou às vezes explícito, de fazer com que Deus lhes abençoe. Vão à igreja e se julgam adoradores extravagantes, mas são vazios de Deus e cheios de si. Adotam símbolos judaizantes, dos mais variados possíveis, e rogam para si os direitos prometidos à nação de Israel, valendo-se dos tais amuletos como pontos de contato para o aumento de sua fé. Dão ênfase, em suas pregações, ao poder de Deus, mas se esquecem de pregar a fraqueza de Deus: Cristo e a cruz (que para os tais é escândalo). São invejosos, consumistas, cobiçosos, insaciáveis e estupidamente otimistas.




Deleitam-se em seus prazeres e esquecem-se do restante do mundo. Querem os melhores concursos públicos, os melhores cargos e empregos, os melhores salários; tudo para seu próprio deleite (Tg 4.1-3). Aplaudem mais às conquistas atreladas a bens materiais, como automóveis, casas, viagens e afins, do que a salvação das almas perdidas. Quando alguns manifestam certo regozijo com a conversão de um pecador, este está muito mais voltado para os números, para as metas de crescimento do que efetivamente para o resgate daquela vida.




Tornam-se supersticiosos, acreditando que se algo não está dando certo em suas vidas é por conta de olho grande, mandingas e encantamentos mil. Dizem que as dificuldades são resultantes de diversos tipos de maldições voluntárias e involuntárias, hereditárias, individuais e coletivas. Não são capazes de perceber que o sacrifício na cruz do calvário quebrou a maldição da lei (Gl 3.13). O evangelho da cruz é para os tais escândalo visto que estão obcecados pelo judaísmo, não pela lei em si, mas pela glória terreal a exemplo dos tempos de Salomão. Isolam textos bíblicos e exalam uma arrogância poética dizendo-se mais que vencedores, mas não sendo capazes de prevalecer perante a mais tenra das provações. Aliás, qualquer tribulação que venham a experimentar é fruto da falta de fé, ou de maldições, ou de feitiço ou de qualquer outra coisa; ao invés de ser fruto para o aperfeiçoamento (Tg 1.2-4; Rm 5.3-5).




Criam os mais diversos tipos de ídolos: cantores, músicas, pregadores, bandas e tudo mais. São toalhinhas com suor santo; água com poder sobrenatural; portal da bênção; arca da aliança para o milagre; paletó com a unção do “cai, cai”; azeite de Jerusalém. Há até mesmo vinhetas de uma produtora musical famosa que diz: “Você adora, a ...... toca”! Efetivamente, os cristãos atuais adoram, mas não o Deus absoluto. Adoram seu estilo de vida. Adoram suas convicções pessoais! Adoram o seu eu! Adoram suas contas bancárias recheadas de verdinhas!




Alvejam ao patamar da mídia comercial gospel a fim de viverem o glamour e o sucesso que ali é oferecido. Ajuntam-se desesperadamente para assistir a missionários que avocam para si um poder sobrenatural de cura, adivinhação, e milagres de preferência de ordem financeira. Atrelam-se a campanhas intermináveis de libertação onde são infectados por mais engodo e por manifestações espirituais duvidosas (Ef 4.14).




Muitos aprendem a crer nos “absolutos” que lhes convém, relativizando e negociando todo o restante. Na verdade, são cristãos nominais e absolutamente incrédulos uma vez que só se associam a determinada profissão de fé “por via das dúvidas”. E essas dúvidas são as mais variadas. Iniciam-se em relação, primeiramente, à ortodoxia da fé! Tais cristãos mal entendem o que é graça ou justificação, dentro do que a Revelação nos permitiu compreender; o que é salvação; o que é nova vida em Cristo; o que é evangelho do Reino; o que é confiança absoluta e plena em um Deus Todo-Poderoso! É uma safra de cristãos ignorantes, fitados em uma pragmática recheada de propósitos vãos, numerários, egocêntricos, imbecilizados!




Para manterem-se firmes nestes propósitos, atestam e colecionam frases de intenso efeito para o ego, mas vazias de verdade quando contrastadas com a Palavra de Deus. Vinculam-se a um otimismo idiotizado, onde gritam como que hipnotizados frases do tipo: “Este é o ano da colheita”; “Este é o ano da vitória”; “Este é o ano da conquista”; “Este é o ano da...” etc.. Chegam ao absurdo de acreditar que a repetição dessas frases terá um efeito mágico e o que observamos é que a grande maioria que vive dentro dessas igrejas não recebe o esperado. Enquanto isso, os líderes de tais denominações, engordam-se materialmente e almaticamente! Enchem-se de orgulho diante de um rebanho sem pastor! São cegos guiando cegos. Ambos iludidos com fábulas e mais fábulas vivendo o contexto do Velho Testamento que é apenas sombra, enquanto a revelação absoluta e majestosa do Cristo Ressurreto é esquecida.




Cristo, nesse viés, alcança uma figura de mero herói de historinhas dos quadrinhos infantis. Um substituto que, sabe lá porque e pra quê, se entregou e nos salvou. Verteu Seu precioso sangue para que pudéssemos arrogantemente invocar direitos legais advindos de uma herança eterna, mas que tem muito mais valor aqui, nessa vã temporalidade. É aqui que estes querem viver o “melhor” de Deus; ou melhor: o melhor do deus deste século (2Co 4.4).




Estes amontoam, para si, mestres e doutores segundo suas próprias concupiscências e conveniências (2Tm 4.3). O que tiver a pregação mais bonitinha, enfeitadinha, adocicadinha, mais facilzinha de se viver, ou pelo menos de se entender, ganha o título de profeta; de o homem mais sábio de nosso tempo! As profecias, por sua vez, são tão doces... Não denunciam o pecado, porém, trazem uma conotação positiva, bem adequada ao buraco negro inabitável de nosso ego! E a consequência dessas “profetadas”, são expectativas frustradas! São sonhozinhos que morrem e se ressuscitam ao som de uma canção qualquer de “restituição”! E novamente, outra dose de ilusão e de otimismo para mentes débeis é injetada nas veias destes cristãos já viciados nesse positivismo podre que ganha o título de pregação e, muito pior, de evangelho!




Há uma alta gama de ébrios, não do Espírito Santo, mas de um – na visão de Hegel – Zeitgeist (“espírito que rege o século”), induzidos pela necessidade do que é palpável, visível para que possam crer. Vivem ao mesmo tempo entorpecidos por uma fé infundada, vazia, obscura; que depende de métodos para se alcançar seu ápice. E a partir daí iniciam-se os catálogos e títulos de maior vendagem nesse mercado negro onde a fé é falsificada e contrabandeada: “101 degraus para se obter sucesso financeiro”; “dez passos para mudar a sua história” etc. A sobriedade, a coragem e disposição de buscar a Verdade são trocadas pelo conformismo e comodismo do American dream (sonho americano). Nesse patamar, o Cristo que passam a pregar e a crer, não passa de um contrato de adesão que lhes garante a “salvação”, ou pelo menos ameniza a culpa da consciência. E se iniciam outros dizeres arrogantes: “eu sou salvo; eu já ACEITEI Jesus”! O problema é que o verdadeiro Jesus não os aceitou: os tem vomitado! Há a necessidade de sobriedade! (1Ts 5.4-10).




As ditas músicas de adoração... Muitos dos ajuntamentos evangélicos atuais têm semelhança com o conto do “Flautista de Hamelin”[1], onde com uma flauta encantada várias crianças são seqüestradas da cidade tendo, aparentemente, o mesmo destino dos ratos que foram afogados. Não obstante, enquanto as canções da moda são entoadas, um grande número de pessoas fica hipnotizado diante de um “mover”, que lhe arranca a possibilidade de raciocinar sobre coisas simples como, por exemplo, a letra da música que é cantada. E alguns fazem dessas letras verdadeiras doutrinas e estilos de vida: “eu tenho a marca da promessa”; “eu quero de volta o que é meu” etc. Isso me faz questionar se seria, efetivamente, um cântico de adoração ou uma “adorada canção” entoada. E os “adoradores” ficam extasiados, freneticamente contagiados. Caem, gritam, riem, uivam, mas esse “mover” caminha poucos metros para fora da igreja, e novamente seus participantes rendem-se a uma fé inerte, inativa, morta. Ainda defendem que isto é obra do Espírito Santo, mas o próprio sentimento egoísta de prazer que lhes envolve já revela dissonância com o fruto do Espírito. São, portanto e, tão somente, prólogos de vaidade.




Nos “moveres” da atualidade, há muita pirotecnia; muito barulho; mas pouco fogo consistente. Ao exemplo dos fogos de artifício, estes sobem e explodem chamando a atenção, mas sua chama logo se esvai. Assim são estes novos cristãos e ajuntamentos: sua chama é curta e depende de uma pólvora que se consome rapidamente. Em pouco tempo se veem desmotivados, desanimados, desesperados. Já o combustível do Espírito, eterniza-se dentro de cada um de nós; vai além das línguas dos anjos ou dos homens; vai além de qualquer sacrifício que algum de nós possa realizar; vai além das profecias e da própria fé: é o amor de Deus derramado sobre nós (1Co 13; Rm 5.5). Acerca desse combustível tratarei no tópico ulterior.






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[1] Conto folclórico escrito pelos Irmãos Grimm.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 7









CAPÍTULO 5 - Cartas Escritas e Lidas




“Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração. E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2Co 3.2-6) [Ênfases adicionadas]




Somos cartas escritas. Mas a grande diferença entre nós e uma correspondência comum, é o endereçamento que transcende o pessoal e se direciona a todos os homens. Ser consciente dessa diferença é essencial para que a nossa fé tenha impacto nesse mundo perdido. Temos, enquanto cartas escritas, a função de expressar mediante um viver reto todo o conteúdo da nova aliança. Em outras palavras, o novo testamento é manifesto por meio de nossas vidas. Isso traduz uma responsabilidade sobrenatural que só é possível mediante a graça do Senhor.




Ao mesmo tempo, ao contrário dos fariseus hipócritas tão confrontados por Cristo, não expressamos uma teologia vazia, baseada em um conteúdo moral impossível de se viver. Não! Como bem observado por Paulo no texto a que se fez referência, Deus nos capacita a sermos ministros da nova aliança, não segundo a lei veterotestamentária, mas segundo a vida que se manifesta por meio do fruto do Espírito.




Somos, portanto, observados por todos que estão a nossa volta. Vivemos em um imenso “Big Brother”, onde o mundo lê a nossa vida e espera de nós testemunho convergente com o que professamos. Não há, pois, espaço para mau testemunho e, se esses existem, a consequência é o descrédito exponencial em relação a nossa fé. A gravidade disso aponta para a crescente apostasia observada nos dias atuais (2Ts 2.3; 1Tm 4.1; 2Tm 3.1-7; 4.1-4). Não obstante, o próprio Cristo chega a exclamar: “Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8).




A crise de fé acompanha a crise de piedade. Na verdade, a piedade deve ser exercitada pelo servo do Senhor (1Tm 4.7,8). É justamente na piedade que se revela a verdadeira religião, conforme nos ensina Tiago:




“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tg 1.27)




Ao contrário do que vemos atualmente dentro da maioria dos ajuntamentos evangélicos, a religião verdadeira não se manifesta por meio de ritos complexos ou invencionices baseadas em fábulas. É representada pelo amor aos necessitados. Essa religião grita alto, chama a atenção e convence o pecador do amor de Deus revelado em Seu Filho, Jesus Cristo.




Testemunhamos um crescente número de teólogos e estudiosos da palavra de Deus. Isso é algo bom! Contudo, o que não podemos é ter um grande número de teóricos que interpretam a Palavra, mas não a praticam (Tg 1.23-25).




É crescente, por exemplo, o mercado de livros no meio evangélico. Junto com isso aumenta-se o número de pregadores itinerantes, que vivem desse comércio. Enquanto isso, mais e mais a palavra tem sido mercadejada, fazendo com que alguns vivam confortavelmente os frutos do evangelho, mas poucos recursos adquiridos por meio desse comércio são aplicados em obras sociais; em projetos que atendam a menos favorecidos. A consequência é que o evangelho tem se tornado confortável para os que colhem os seus frutos, mas são poucos os que desejam realmente sofrer por ele. Quem dera se alguns desses pregadores adotassem o entendimento de Paulo: “de graça recebi; de graça dou”! Mas essa não é a nossa realidade.




Esse quadro todo representa um sacerdócio da letra morta. Têm-se ministros que se entregam a “moveres”, outros que mostram uma teologia plausível, mas pouca prática do amor. Grande maioria aquecida pelo frio vil metal.




De mesmo modo, majora-se a quantidade de músicos e cantores no mundo gospel que vive confortavelmente, com cachês expressivos. Novamente, percebe-se que pouco do que se ganha é aplicado em obras sociais. E quando isso é feito, parece que é apenas para desencargo de consciência, ou para tentar trazer uma aparência de piedade. Tempos estranhos são estes, não é mesmo? Com tudo isso, boas oportunidades de testemunho têm sido perdidas.




Se porventura, a igreja começar a viver o testemunho que se opera por altruísmo e caridade, provavelmente o quadro mudará. Não se pode chegar a uma igreja completamente pura, doutrinariamente falando, mas se pode caminhar nesse sentido, desde que observadas as obras do amor, a doutrina, a oração e a santidade.




No livro de Apocalipse temos o exemplo de sete igrejas, onde apenas duas são aprovadas por Deus (Ap 2 – 3). Sabendo que as características apresentadas ali se aplicam ao nosso tempo, citarei a título de exemplo, quatro dessas igrejas.




A primeira igreja apresentada é Éfeso. Conquanto esta igreja tenha sido elogiada por seu cuidado para com a doutrina, demonstrando forte conteúdo apologético no combate a falsos mestres, foi ainda assim exortada a retornar ao primeiro amor (Ap 2.1-7). Não seria esse o caso de inúmeros apologistas da atualidade que, apesar de demonstrar zelo para com a sã doutrina, pecam por não se mobilizarem em amor? Retorno às obras do amor é necessidade para a salvação. Como já demonstrado, a fé sem obras é morta. Sendo, pois, a fé essencial à justificação, a fé inoperante resulta em perdição.




A segunda igreja que citarei é a de Laodiceia (Ap 3.14-22). Vemos essa igreja adornada de prosperidade material. Uma igreja que se julga triunfalista e detentora de uma auto-suficiência aparentemente invejável. Mas a verdade é que não passa de uma comunidade desgraçada, pobre, cega e nua. É uma igreja que adotou um sincretismo tão perigoso que já perdeu sua característica essencial: ser sal e luz do mundo. Por esse motivo está a ponto de ser vomitada da boca de Deus. Essa igreja tem se adequado perfeitamente à nossa realidade. Triste verdade é essa...




Temos, a contra-senso, as igrejas de Esmirna e de Filadélfia. Esmirna é sofredora. Compõe-se de mártires dispostos a darem a própria vida pelo testemunho do evangelho. A sua pobreza material representa riqueza e peso de glória diante de Deus (2Co 4.17). De mesmo modo, a sua tribulação manifesta a sua fidelidade ao Senhor. É sofredora, disposta a prisões e mantém-se fiel até a morte, por isso, tem a garantia da coroa da vida.




Filadélfia, semelhantemente, demonstra paciência e zelo pela Palavra. Em coerência com o conselho do salmista, esta igreja guarda a palavra do Senhor em seu coração (Sl 119.11). Por esse motivo será resguardada do momento de tribulação que virá sobre toda a Terra. Que grande promessa é essa!




Sejamos como essas duas igrejas que apresentam um testemunho puro, santo e verdadeiro. Esse testemunho, sem palavras, responde aos confrontos e ataques do mundo. Esse testemunho revela o caráter precípuo do cristianismo: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo! Glória ao nome do Senhor!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 6









CAPÍTULO 4 - O perfume de Cristo



“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus.” (2Co 2.14-17) [Ênfases adicionadas]




Alguns anos antes de partir para a glória, A. W. Tozer de modo verdadeiro e, por isso, profético escreveu o seguinte:




Seria um arranjo conveniente se fôssemos constituídos de modo que não pudéssemos falar melhor do que vivemos. Por razões que Deus conhece, porém, parece que não há necessariamente ligação entre o nosso falar e o nosso agir; e aqui está uma das armadilhas mais terríveis da vida religiosa. [O Poder de Deus; A. W. Tozer, p. 29; Editora Mundo Cristão, 1995. 3ª ed. Tradução de Odayr Olivetti].




O motivo da preocupação desse exímio pastor, escrita nos anos 1950, é tão atual quanto sempre foi na história da caminhada da igreja cristã ao longo dos séculos. O crescimento efetivo da igreja santificada sempre esteve atrelado ao testemunho. É, nos dizeres de Paulo, a fragrância do conhecimento de Deus. Sendo assim, a percepção da manifestação do conhecimento acerca de Deus está no bom testemunho.




A palavra “mártir” significa, originalmente, testemunho. Não obstante, escreveu Tertuliano que o “sangue dos mártires é a semente da igreja”. Quanto mais a igreja primitiva se viu perseguida, por conta do testemunho, mais ela crescia. A maior parte da igreja ocidental, ao contrário da igreja sofredora, que aqui chamarei de Esmirna (Ap 2.8-11), não tem sido perseguida fisicamente. Entretanto, e mais perigosamente, a maior perseguição que se instala atualmente se dá mediante o conformismo, a acomodação espiritual. E quando digo acomodação espiritual, ao contrário do que muitos imaginam, o Espírito se manifesta ou autentica sua manifestação, sempre, por meio de ação (Gn 1.2; Jo 3.8; At 2.1-45; 4.31 etc.).




Não se trata, evidentemente, do que atualmente é entendido como “mover do Espírito”; pelo contrário, em tais movimentos o que temos percebido é muito barulho e pouco resultado. Logo, não me equivoco nem blasfemo quando digo que grande parte desses “moveres” que assistimos no meio de várias denominações evangélicas, é majoritariamente carnal e não espiritual.




Quando estamos diante de um genuíno avivamento, a característica mais marcante é a mudança comportamental, a atitude que o acompanha. Isso é a mais evidente manifestação da “fragrância do conhecimento de Deus”. Entretanto, como reconhecer o cheiro do bom perfume de Cristo, que é a igreja? Trataremos desse tema, a seguir.




1) O Bom Perfume não se dissipa logo




Não sou especialista em perfumes. Mas algo que já me disseram e acredito ser razoável, é que a fragrância de um bom perfume não se esvai rapidamente. Deve o bom perfume permanecer.




Temos testemunhado um grande número de ajuntamentos evangélicos que, em grande parte, se autodenominam pentecostais. Nesses, grande número de espectadores dizem experimentar um “mover” diferente que lhes eleva a um estado de êxtase que lhes proporciona um prazer imediato inexplicável. Acompanham esses moveres as mais variadas unções: unção do “cair no Espírito”; unção do riso; unção de conquista etc. Ocorre que, conquanto os que participam de tais movimentos defendem que as sensações ali experimentadas, a maioria destes ao dispersar-se, não demonstra atitude convergente com o fruto do Espírito.




Já consignei na postagem relativa à “Análise do Encontro” algumas observações relativas a um desses moveres que, por um tempo, foi adotado por minha igreja. Poderia, sem exageros, afirmar que centenas de pessoas participaram dos Encontros realizados pelo ministério a qual pertenço, mas certamente contamos nos dedos os que se firmaram. Na grande maioria, só continuaram participando de nossa congregação os que já eram de lá.




Do mesmo modo, mormente, vejo as igrejas neopentecostais cheias, quase que o tempo todo. Mas a rotatividade de membros é o que mais nos assusta. Os movimentos são criados com a finalidade de chamar a atenção de inúmeras pessoas que, em sua grande maioria, por não serem convertidas ao verdadeiro evangelho, simplesmente, em pouco tempo, abandonam a congregação. Às vezes, ainda valem-se do título de cristãos evangélicos, mas passam um grande período andando de igreja em igreja e, quando não se identificam com nenhuma destas, dispersam-se voltando ao mundo do qual, na realidade, nunca saíram.




Pela rápida dispersão desses frequentadores das igrejas envolvidas com esses “movimentos” espirituais, pode-se perceber que o perfume tem se esvaído rapidamente. Logo, não se pode confiar na doutrina de tais igrejas como sendo em total acordo com a Palavra da Verdade.




Entretanto, para os que continuam freqüentando esses seguimentos evangélicos, observem que seu crescimento se dá muito mais no âmbito da arrogância e orgulho do que da humildade. Os consolidados regozijam-se por participarem na construção de grandes templos, mas fazem pouco ou nada em relação aos necessitados, em contraste ao que efetivamente ganham. Esnobem e exibem grandes carros com um adesivo “Deus é fiel”, uma conta bancária significativa, mas não vivem o amor com uma doação realmente considerável a obras de caridade. São arrogantes, presunçosos, orgulhosos e medrosos. Vivem com medo de olho grande, de inveja e qualquer urucubaca que lhes possa ser acometidas. Dependem, por isso, o tempo todo das mais variadas quebras de maldição; e não conseguem desfrutar prazer em Deus, unicamente. Há excêntrica necessidade do consumismo e do entretenimento para que mantenham sua auto-estima elevada. Esta é a radiografia mais comum do cristão “triunfalista” contemporâneo.




Porém, quando estamos diante de uma igreja revestida com o Espírito Santo, certamente haverá uma consistência nos membros que dela participam. Estes podem até ser em número menor, mas são mais expressivos quanto às questões espirituais. Serão, certamente, mais ativos quanto à prática do amor; mais fortalecidos em meio às lutas; mais pacientes quanto à fé; mais profundos e arraigados quanto à doutrina; mais humildes quanto à consciência da salvação; mais perseverantes quanto à oração; mais cônscios quanto aos dons espirituais; e mais unidos e preocupados uns com os outros. Isso é o mínimo que se deve esperar de uma congregação forte. O problema é que atualmente não temos encontra sequer uma congregação com essas características. Deveríamos, evidentemente, caminhar nesse sentido a fim de o aperfeiçoamento dos santos ser manifesto a todos.




2) Pela fragrância é possível dizer o nome do perfume




Todos já ouviram a expressão: “isso não me cheira bem”. Exato! Tal exclamação popular resume claramente o que se pretende abordar nesse próximo capítulo em relação ao reconhecimento do “bom perfume de Cristo”.




Pois bem, os judeus de Beréia foram elogiados pelo doutor Lucas em face de sua atitude em relação à pregação da Palavra da Verdade:




“E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (At 17.10,11) [Ênfase adicionada]




Em suma, como aprendemos a discernir o cheiro do perfume de Cristo? Conhecendo a Sua Palavra. É nela que o conhecimento de Deus se manifesta. Logo, a fragrância do conhecimento de Deus tem que estar de acordo com a Sua Palavra. Assim eram os judeus de Beréia; após receberem a palavra, atestavam sua validade por meio do exame minucioso das Escrituras. Seguindo esse raciocínio, textos conhecidíssimos nos exortam:




“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” (Os 4.6)




A ignorância bíblica é a grande causadora dessa destruição de conceitos e declínio ético-moral vivido pelas igrejas evangélicas em nosso país, bem como em todo mundo ocidental que um dia ergueu, em estandarte, o título de cristão. Tudo isso somado a um sincretismo doutrinário faz com que a mensagem bíblica se misture ao veneno que o mundanismo apregoa como verdade. A consequência disso tudo é assassinato espiritual em massa. Tudo de mais vil e perverso decorre justamente desse desconhecimento generalizado ou mesmo da negação do conhecimento de Deus. Assim nos exortou o apóstolo Paulo em texto que eu, humildemente, rogo a cada um que leia e reflita com todo o temor e tremor diante de Deus:




“porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.” (Rm 1.21-32) [Ênfases adicionadas]




O texto acima não tem revelado justamente o que assistimos em grande escala no contexto mundial? Inequivocamente, o grande segredo da vitória do cristão nascido de novo, neste mundo fétido, em avançado estado de putrefação, é conhecer o aroma do perfume do Senhor; a fragrância de Seu conhecimento. O profeta Oséias, mais uma vez nos exorta:




“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.” (Os 6.3)




Amados no Senhor: meditem na Palavra dia e noite (Sl 1.1-6)! Não se deixem ser enganados! As mentiras e engodos multiplicam-se exponencialmente em nossos dias. Logo, estar bem preparado para a batalha espiritual que circunda nossas vidas é questão de vida eterna ou morte eterna, como já li de um piedoso escritor. (Ef 6.10-18).