terça-feira, 27 de abril de 2010

Análise do "Encontro": é tremendo! - Parte 10a


7. Sábado 6ª Ministração – Indo à Cruz

Essa ministração apresenta uma série de equívocos doutrinários, acerca dos quais nos deteremos na presente explanação. Veremos, a seguir, passo a passo, alguns erros que pudemos observar.

“Liberando” Perdão

Façamos a leitura do texto abaixo, extraída da apostila do Encontro:

A cruz me leva ao perdão. Eu recebo perdão e recebo a capacidade de perdoar. Deixo tudo na cruz. O que eu fiz e o que fizeram comigo. Perdão é uma decisão, mas o ressentimento é um caminho para eu voltar ao pecado. Libere os ofensores. Deixe tudo na cruz. O sacrifício da cruz é o princípio e o fim da restauração na sua vida. (Grifo nosso)

Fiz questão de grifar a frase “Libere os ofensores”, pois atualmente está em voga a questão do "liberar" perdão. Há alguns meses atrás em conversa com um pastor, este me contou uma história um pouco estranha em relação à Palavra de Deus. Disse que um jovem saiu de sua igreja em rebeldia. Algum tempo depois esse jovem retornou até sua igreja e quis falar com este pastor. Segundo esse jovem, tudo na sua vida estava dando errado, então ele sentiu que deveria vir até esse pastor para pedir perdão e, uma vez perdoado pelo pastor, estaria liberto do jugo de maldição. Esse pastor me disse que, ao ouvir o que esse jovem falava, imediatamente liberou perdão, a fim de que a maldição fosse quebrada. Ouvindo essa história, atentamente, percebi que o perdão a que o pastor havia liberado se difere um pouco do PERDÃO que a Bíblia nos ensina. Não obstante, a própria frase “Liberar perdão” nos traz a idéia de que o perdão é uma espécie de força que tem o poder de aprisionar o ofensor. Logo, aparentemente, quando você libera perdão, uma espécie energia cósmica é liberada e o ofensor se vê livre. Um tanto estranho, não? Por isso fiz questão de grifar a frase “Libere os ofensores”. Mas, vamos entender um pouco do que é o perdão, biblicamente falando, para depois voltarmos nesse assunto.

O perdão não se trata de um dom que o Espírito nos dá, tal como o amor não é um dom. O amor é uma das características do fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Entretanto, dentre as características do fruto do Espírito, não encontramos a palavra perdão. Senão vejamos:

“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” (Gl 5.22)

Logo, o que dizer do perdão? Onde encontramos referência a esta palavra? Na verdade, o perdão participa dos atributos do amor:

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;” (1Co 13.4,5 – ARA) (grifo nosso)

Você percebe, pela última frase grifada, onde se encontra o perdão como uma das características do fruto do Espírito? É evidente que o perdão é necessário para a vida cristã. Se o perdão é parte do amor, logo, a vida cristã sem o caminho mais excelente (1Co 12.31b), é igual a nada. Perceba, inicialmente, que o próprio apóstolo Paulo afirma que, qualquer coisa por mais louvável, fantástica, piedosa, extraordinária, sobrenatural que seja, sem amor é igual a nada. Compreendendo-se que o perdão é parte do amor, significa dizer que, extraído quaisquer dos elementos do amor, este já se descaracteriza. Logo, o amor sem perdão, não é amor. Por isso o próprio Cristo, por meio de uma parábola maravilhosa, nos afirma que a própria salvação alcança um limite em nossa disposição para perdoar (Mt 18.21-35).

Mas, a grande questão que está em voga é acerca de liberar o perdão. Alguns acreditam, veementemente, que o fato de você não perdoar alguém, faz com que a pessoa não perdoada fique presa por uma espécie de maldição. Na verdade, alguns poderiam até afirmar que o texto descrito em Mt 18.21-35 corrobora a “doutrina da liberação de perdão”. Entretanto, Jesus se vale de uma parábola para demonstrar a proporção da misericórdia de Deus, quando comparado ao nosso saldo devedor diante Dele, em relação a nossa dureza de coração e falta de amor para com o nosso próximo. A parábola apresenta isso de uma forma extremamente clara, mas não evidencia que, todas as vezes que nós não “liberamos” perdão, a pessoa fica presa a nós. Pelo contrário, tal parábola ainda nos admoesta informando-nos que o perdão traz incalculáveis benefícios para aquele que perdoou. Ocorre que se esquecermos o enfoque central da parábola e aplicarmos a parte em que aquele homem, que foi perdoado, lança o outro na prisão, poderemos acreditar que isto é uma regra bíblica; ou seja, uma vez que você não perdoa, a pessoa se vê prisioneira. Mas, usando uma hermenêutica simples, perceberemos, no verso 35, que o princípio ressaltado pelo Mestre, refere-se ao perdão como requisito necessário para ser perdoado. O aprisionamento do ofensor não é um princípio bíblico. Façamos a leitura do verso 35 para entendermos melhor:

“Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”. (Mt 18.35 – ARA)

É possível perceber o princípio destacado por Jesus? É possível perceber, ainda, que a má interpretação desse texto nos faz acreditar que, efetivamente, o fato de não perdoarmos nosso irmão o aprisiona? Logo, uma hermenêutica bíblica atenta, aliada à revelação do Espírito, nos descortina os verdadeiros princípios que devem ser observados na vida cristã e, ao mesmo tempo, nos conserva dentro da essência doutrinária inserida no texto sagrado.
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