sexta-feira, 31 de outubro de 2008

"Fiz-me fraco para os fracos, a fim de ganhar os fracos"


NÃO HÁ MAIS DISTINÇÃO ENTRE CRENTES E INCRÉDULOS?

Nos tempos hodiernos é comum não sabermos distinguir o chamado “povo de Deus”, das pessoas do mundo. Para mim isso parece estranho. Parece que nós, cristãos, temos, dia após dia, nos identificado mais com o mundo do que com Cristo. Ou será que o mundo tem se identificado mais conosco? Se esta última proposição fosse verdadeira, então Jesus mentira radicalmente quando disse que o mundo nos odiaria. Por isso, não é de se esperar que o mundo venha a se revestir da nossa identidade. Se, contudo, você acha que estou sendo deveras conservador, apenas te peço que observe os evangélicos da atualidade. Olhe a nossa forma de vestir e de se portar. Olhe a nossa forma de falar. Observe a nossa forma de agir. Observe o que temos feito com nossos corpos. Faça uma análise da nossa forma de louvar em shows etc. Tente encontrar diferença entre nós e o mundo.

“– Ah, Jordanny – alguns devem pensar – que mente mais retrógrada essa sua; não percebe que onde habita o espírito ali há liberdade? E, esse negócio de vestimenta e jeito de falar ou de se comportar; você não vê que o profeta Joel disse para nós rasgarmos os nossos corações e não as nossas vestes? Deus está interessado é no coração e não na aparência? Doutrina bíblica eu aceito, agora, usos e costumes, isso não tem nada a ver. Sai pra lá!”

Sei que muitos pensam assim. E sei que essa é a melhor forma de afrontar àqueles crentes que, para todos os outros, são tachados de fundamentalistas, atrasados, tradicionais, ou mesmo, “caretas”; ou uma forma de fugir da realidade nua e crua da Palavra de Deus. Entretanto, para aqueles que acreditam que Deus está interessado tão somente no coração do homem, tenho algumas colocações: primeiramente, se a aparência do homem não fosse algo importante para Deus, por que Ele nos criaria a sua imagem? Ademais, por que o apóstolo Paulo rogaria para que nós apresentássemos nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, sendo este o nosso culto racional? Sei que Deus vê os nossos corações, e se preocupa com o nosso interior. Mas o nosso exterior é também importante para Deus. E digo mais, Deus se interessa pelo homem em sua completitude: espírito, alma e corpo (nessa ordem!). Em seguida, devo informar que tenho convicção de que, onde habita o Espírito, ali há liberdade. Porém, o que seria a liberdade do cristão? Não vou adentrar neste tema, mas posso afirmar que só encontramos liberdade no Espírito sendo escravos/submissos a Deus. Para fundamentar o que disse, deixo a seguinte passagem bíblica para a sua reflexão: (I Corintios 7:22) - Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo.

Por conseguinte, observando o caminho da igreja evangélica atual, percebemos que, acreditando viver a liberdade, mas vivendo uma verdadeira libertinagem, muitos têm se valido de textos isolados para justificarem, por meio da Palavra, atitudes divergentes da própria Palavra. Esse tipo de atitude é inerente à natureza de cada um de nós. Sempre buscamos fugir de nossas responsabilidades e culpas. Isso é natural no ser humano. Todas às vezes que o homem falha, ele lança a responsabilidade em outra coisa, fato ou pessoa, tentando isentar-se da condenação. Foi assim no Éden. Logo que o homem peca, ele passa a esconder-se. E, logo após ser inquirido por Deus, lança a culpa na mulher, que, por sua vez, aponta a responsabilidade para a serpente. Qual a importância dessa afirmação e onde você quer chegar? – você deve estar perguntando, e eu lhe respondo rapidamente: o homem, nessa contumácia em fugir da responsabilização, busca diversos meios para justificar seus erros; dentre estes meios, o homem se vale da própria Palavra para tentar justificar o seu pecado. É por isso que anteriormente afirmei que muitos têm utilizado textos da Palavra para isentarem-se de responsabilidades, ou mesmo, para atenderem sua natureza pecaminosa sem que assista condenação diante do homem (gosto de lembrar que, diante de Deus, o homem é inescusável).

PARA GANHAR UM VICIADO, DEVO VICIAR-ME?
Após a apresentação dos postulados anteriores, passo a tratar especificamente do tema aqui proposto. Já ouvi diversos teólogos, cristãos e líderes religiosos, valendo-se da conhecida passagem disposta na primeira carta escrita aos Corintios, para justificarem diversas atitudes libertinas e contrárias à Palavra de Deus, no tocante a revestirem-se da aparência mundana. Leiamos a passagem para compreendermos a forma equivocada que muitos têm interpretado e, em seguida, tiremos conclusões do texto:
(I Corintios 9:22) - Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.

Este texto, isoladamente e mal interpretado, dá a entender que, para ganhar vidas para Cristo, vale tudo. Na verdade, muitos líderes religiosos e teólogos têm interpretado este texto dessa forma. Mas seria essa a proposta apresentada por Paulo? Para iniciar minha argumentação faço a seguinte análise: se este texto for utilizado segundo a interpretação equivocada de muitos, nós veremos diversos cristãos, sob o pretexto de ganhar um drogado, usando drogas; sob o pretexto de ganhar uma prostituta, se prostituindo; sob o pretexto de ganhar um feiticeiro, praticando feitiçaria. Essa é a intenção do Senhor Jesus? Cristo quer que nós nos misturemos com o mundo, seguindo seus ritos e nos amoldando a este, sob o propósito de ganhar almas? A resposta é evidente: não! A Palavra nos exorta constantemente à santidade. E santidade significa separação. Santidade significa diferença. A Palavra ainda nos diz para não nos amoldarmos ao padrão deste século. Veja que o padrão que este século tem imposto a todos aqueles que são escravos do pecado, atinge toda a tricotomia humana: corpo, alma e espírito.

Então, o que Paulo quis dizer nessa famosa passagem bíblica? A interpretação requer de nós a leitura de todo o texto, da contextualização, da aplicação de princípios bíblicos fundamentais e, principalmente, de submissão à revelação do Espírito Santo, pois assim não interpretaremos segundo o que queremos ler (ou seja: adequando o texto à nossa natureza pecaminosa), mas sim segundo o que Deus quer. Partindo daí, vejamos o que se pode aprender deste texto. Leiamos a partir do verso 19:

(I Corintios 9:19-23) - Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.

Primeiramente, nós observamos o apóstolo Paulo revestindo-se da característica mais autêntica de Cristo: a servidão. Cristo, no Evangelho segundo escreveu Mateus 11: 29, nos exorta a aprendermos d’Ele, que é manso e humilde de coração. Na carta escrita aos Filipenses, no capítulo 2, Paulo, mais uma vez, nos ordena que tomemos a semelhança de Jesus. Sendo servos, passamos a considerar os outros superiores a nós mesmos e isso é essencial para a propagação do Reino. É por isso que Paulo afirma que, mesmo sendo livre, fez-se servo de todos para ganhar mais vidas para o Senhor Jesus.

Chegando-se a essa conclusão, podemos agora compreender os versos seguintes. Segundo o contexto, fazer-se de judeu, ou se fazer de fraco, significa colocar-se no lugar do judeu ou do fraco. Isso foi exatamente o que Cristo fez. Ele se fez pecado, mesmo não cometendo pecado algum, a fim de nos libertar da escravidão do pecado. Jesus colocou-se no lugar do homem/pecador, passando a compreender o pecador. Paulo, de mesmo modo, sensibilizou-se com as causas daqueles a quem se dirigia. Paulo, por se tornar sensível, não os imitou. Pelo contrário, colocou-se no lugar deles, compreendeu-os e disponibilizou-se a evangelizar-lhes. Paulo era imitador de Cristo, e não imitador de homens. Paulo não se portou como um pecador, apenas colocou-se no lugar do pecador a fim de ganhá-lo por compreendê-lo. Paulo, se tivesse vivido em nossos dias, não precisaria drogar-se para ganhar um drogado; ele apenas se colocaria no lugar do drogado para compreendê-lo e para ajudá-lo, a fim de ganhá-lo para o Senhor. Paulo, de mesmo modo, para ganhar um adúltero, não cometeria adultério; ele se colocaria no lugar do adúltero compreendendo que o amor de Deus se estende à todo aquele que se arrepender e se entregar a Ele em submissão. Veja, nesse sentido, que todo o contexto muda. E que a Bíblia já não se revela contraditória; apenas é incompreendida.

No Evangelho segundo escreveu João 8: 3-11, este mesmo princípio foi aplicado por Cristo no caso da mulher apanhada em adultério. Jesus não se tornou adúltero para ganhá-la. Jesus colocou-se no lugar dela. A compaixão do Mestre se estendeu àquela mulher, e isso lhe trouxe a salvação.

Diante da análise aqui apresentada, eu te faço uma pergunta: com quem você tem se parecido? Observe seu modo de falar, de andar, de se vestir, de se portar. Com quem você tem se identificado? Com Cristo ou com o mundo? Para eu ganhar um roqueiro cheio de tatuagens e piercings eu preciso me encher de tatuagens, colocar um piercing e deixar o cabelo estilo moicano e todo colorido? Pra eu ganhar meus colegas da escola, eu preciso me enturmar em suas brincadeiras, imoralidades e palavrões? Pra eu ganhar um bandido eu devo me vestir ou falar como um bandido? Pra eu ganhar uma prostituta eu devo me vestir e falar conforme uma prostituta?

(Romanos 12:2) - E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

Renovação da mente não significa libertinagem e aceitação das coisas mundanas em nossas vidas sob o pretexto de ser um cristão liberal. Renovação da mente significa aprender a pensar como o Senhor, que é Santo. Não se amolde ao padrão deste século.
(Mateus 5:14) - Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
Você não deve parecer com o mundo. Você deve ser um sinal de destaque. Lembre-se que uma cidade edificada sobre um monte não pode ser escondida. Assim você deve ser. A sua identidade cristã deve ser vista de longe.

Espero ter ajudado a todos na compreensão desta passagem. A paz do Senhor!